A Lenda de Althar

 


A cidade de Telara dormia sob a luz pálida da lua, suas ruas de paralelepípedos desertas e suas casas de pedra enegrecidas pelo tempo. No centro da praça principal, a estátua imponente de um guerreiro dominava a paisagem, esculpida em mármore branco, com uma espada erguida em um gesto eterno de proteção. Os habitantes de Telara passavam diariamente por aquela estátua, muitos esquecendo a lenda que ela representava: a lenda de Althar, o guardião adormecido.

Na calada da noite, quando o silêncio era absoluto, uma sombra disforme se arrastava pelas ruas. Não era uma sombra comum, mas uma entidade de trevas e desespero, um monstro que se alimentava do medo e da dor. A criatura, com olhos que brilhavam como carvões em brasa, começou a devorar qualquer coisa em seu caminho. Muros de pedra se desintegravam sob suas garras, e o som de madeira estalando ressoava pelas ruas enquanto as portas eram arrancadas das casas.

Os primeiros gritos ecoaram pelos becos, despertando a cidade de seu sono. Telara, que nunca conhecera a guerra ou a destruição em vida recente, agora estava diante de um terror sem nome. As pessoas correram para suas janelas, olhando incrédulas para a criatura que rasgava suas casas e devorava suas esperanças.

A confusão logo se transformou em pânico. Os sinos da igreja começaram a tocar freneticamente, um chamado desesperado por ajuda. Homens e mulheres pegaram o que puderam — facas de cozinha, ferramentas de fazenda — e se prepararam para lutar pela sua sobrevivência.

No entanto, suas tentativas foram inúteis. Cada golpe contra a criatura era como bater em fumaça sólida. O monstro parecia rir enquanto suas vítimas caíam uma a uma, seu corpo disforme se contorcendo com uma fome insaciável.

Foi então que algo extraordinário aconteceu. Um brilho suave começou a emanar da estátua de Althar. Aqueles que ainda estavam na praça recuaram em espanto, observando com olhos arregalados enquanto a pedra parecia ganhar vida. O mármore brilhou intensamente, e a estátua começou a se mover.

Althar, o guardião adormecido, tinha despertado.

A estátua, agora animada, deu um passo à frente. Cada movimento era acompanhado por um som de pedra raspando, um ruído que ecoava pela praça. A espada de mármore em sua mão refletia a luz da lua, e seus olhos de pedra agora brilhavam com uma determinação renovada.

O monstro, sentindo a nova ameaça, virou-se para enfrentar o guardião. Um rugido encheu o ar, uma mistura de raiva e desafio. A batalha estava prestes a começar.

Althar avançou, a espada erguida. O primeiro golpe foi devastador, a lâmina de mármore cortando o ar com uma força implacável. O monstro tentou desviar, mas foi atingido de cheio, um pedaço de sua essência negra se dissipando no ar.

A criatura retaliou com ferocidade, suas garras negras rasgando o mármore de Althar. O som de pedra quebrando encheu a praça, mas o guardião não recuou. Ele desferiu outro golpe, e mais um, cada um arrancando fragmentos do monstro.

A batalha foi brutal. O monstro, embora ferido, era ágil e implacável, suas garras e presas rasgando o mármore de Althar em pedaços. No entanto, o guardião, apesar de ser uma estátua animada, lutava com a habilidade e a força de um guerreiro lendário.

Enquanto a luta continuava, os habitantes de Telara observavam com um misto de esperança e temor. Muitos se aglomeraram nas janelas, outros nas portas, todos presos em um silêncio expectante. A cada golpe desferido por Althar, a multidão prendia a respiração, e a cada retaliação do monstro, suspiros de desespero ecoavam.

O monstro, percebendo que estava em desvantagem, soltou um grito gutural que reverberou pelas ruas. Do meio das sombras, outras criaturas começaram a emergir, seus corpos disformes e grotescos se movendo com uma malevolência palpável. Eram menores que o primeiro monstro, mas igualmente aterrorizantes, e avançavam em direção à praça com uma fome voraz.

Althar, agora cercado, não vacilou. Ele brandiu sua espada com uma força redobrada, determinado a proteger a cidade que havia jurado guardar. A lâmina de mármore cortava o ar, despedaçando qualquer monstro que se aproximasse. No entanto, para cada criatura que caía, duas pareciam surgir em seu lugar.

A batalha se intensificou. Althar, apesar de sua resistência e poder, estava sendo sobrepujado pelo número esmagador de monstros. Seus movimentos se tornaram mais lentos, a pedra de seu corpo começando a mostrar sinais de desgaste. Mas o guardião não desistiu. Cada golpe era desferido com uma precisão mortal, e cada movimento era um testemunho de sua determinação inabalável.

Os habitantes de Telara, inspirados pela bravura de Althar, começaram a se mobilizar. Aqueles que tinham recuado inicialmente, agora voltavam às ruas, armados com qualquer coisa que pudessem encontrar. Facas, tochas, arcos e flechas — qualquer coisa que pudesse ser usada como uma arma. Homens, mulheres e até crianças se juntaram à luta, determinados a defender sua cidade.

A praça principal de Telara se transformou em um campo de batalha caótico. Gritos de coragem e desespero se misturavam com o som de aço contra carne e pedra contra trevas. O chão estava coberto de escombros e sangue, mas a determinação dos habitantes de Telara era inabalável.

Althar, vendo a coragem dos habitantes, parecia ganhar uma nova força. Ele brandiu sua espada com renovada ferocidade, cada golpe desferido com uma precisão letal. Os monstros, antes confiantes em sua superioridade numérica, agora recuavam diante da fúria do guardião e da resistência inesperada dos humanos.

A batalha continuou por horas, cada lado lutando com todas as suas forças. Telara, que antes era uma cidade tranquila e pacífica, agora era um campo de batalha repleto de coragem e sacrifício. E no centro de tudo, Althar, o guardião adormecido, lutava com a força de mil guerreiros, determinado a cumprir sua promessa de proteger a cidade.

À medida que a primeira luz da manhã começava a tingir o horizonte, o campo de batalha estava repleto de sinais de destruição. As casas estavam em ruínas, a praça central parecia um campo de escombros, e o ar estava pesado com o cheiro de sangue e suor. No entanto, apesar do caos, os habitantes de Telara continuavam a lutar, movidos por uma determinação feroz e pela visão inspiradora de Althar, o guardião adormecido, que continuava a enfrentar os monstros com uma tenacidade inabalável.

A notícia da batalha se espalhou rapidamente pela cidade, e mais moradores começaram a se juntar à luta. O ferreiro local, um homem corpulento chamado Joran, chegou brandindo um martelo pesado, enquanto a curandeira da vila, Lira, trouxe poções e remédios para tratar os feridos. Até mesmo os mais jovens, armados com pedras e estilingues, se uniram à resistência, determinados a proteger seu lar.

O rugido distante de mais monstros ecoava no ar, sinalizando a chegada de reforços inimigos. Althar, percebendo a gravidade da situação, ergueu a espada com renovada determinação e avançou contra a nova horda. As criaturas eram maiores e mais aterrorizantes, seus corpos disformes cobertos de espinhos e escamas, e seus olhos brilhando com uma malevolência pura.

A batalha atingiu um novo clímax. Althar, lutando com a força de um exército, desferia golpes precisos e devastadores. Sua espada de mármore cortava o ar, arrancando pedaços dos monstros, enquanto os habitantes de Telara atacavam com tudo o que tinham. O chão tremia sob os pés dos combatentes, e o som de aço contra carne, de pedra contra trevas, ecoava pela praça.

Em meio ao caos, uma figura emergiu das sombras. Era um monstro de proporções gigantescas, muito maior do que qualquer um dos outros. Seus olhos brilhavam como carvões em brasa, e sua presença exalava um mal antigo e profundo. Althar, reconhecendo a ameaça, avançou para enfrentar o novo inimigo.

A batalha entre Althar e o monstro colossal foi épica. O guardião desferia golpes com uma força tremenda, mas a criatura era rápida e ágil, desviando-se e contra-atacando com uma fúria descomunal. A espada de mármore encontrava resistência na pele escamosa do monstro, e cada golpe era um teste de força e habilidade.

Os habitantes de Telara assistiam em um misto de medo e esperança. Eles sabiam que o resultado desse duelo poderia selar o destino de sua cidade. Com coragem renovada, eles continuaram a lutar contra as criaturas menores, determinados a apoiar Althar da melhor maneira possível.

O monstro colossal, percebendo a resistência dos habitantes, soltou um rugido ensurdecedor e atacou com renovada ferocidade. Suas garras afiadas como lâminas rasgavam o mármore de Althar, arrancando pedaços do guardião. No entanto, Althar não vacilou. Ele desferiu um golpe devastador, sua espada cortando profundamente o flanco do monstro. A criatura soltou um grito de dor e raiva, recuando momentaneamente.

Foi nesse momento que uma jovem garota chamada Elara, conhecida por sua coragem e determinação, teve uma ideia. Ela correu para o ferreiro Joran e pediu que ele forjasse flechas especiais, utilizando o metal mais resistente que ele possuía. Joran, compreendendo a urgência, trabalhou freneticamente, e em pouco tempo, Elara estava armada com uma aljava de flechas afiadas.

Com precisão e habilidade, Elara começou a disparar as flechas contra o monstro colossal. As flechas, forjadas com maestria, penetravam a pele escamosa da criatura, causando-lhe dor e distração. Althar, aproveitando a vantagem, desferiu uma série de golpes poderosos, cada um cortando mais profundamente.

O monstro, agora gravemente ferido, soltou um rugido final de desespero e raiva. Com um último esforço, Althar ergueu a espada e desferiu um golpe decisivo, sua lâmina de mármore atravessando o coração da criatura. O monstro soltou um grito estridente e, em um turbilhão de sombras, desmoronou em uma pilha de poeira negra.

Um silêncio pesado caiu sobre a praça. Os habitantes de Telara, exaustos e feridos, olhavam em volta, absorvendo a cena de destruição e vitória. Althar, agora coberto de rachaduras e fragmentos de mármore caídos, permaneceu em pé, sua espada erguida em triunfo.

No entanto, a vitória foi breve. O chão começou a tremer novamente, e do horizonte, uma nova horda de monstros se aproximava. Eram ainda mais numerosos e aterrorizantes, e entre eles, uma figura ainda mais sinistra e poderosa surgia. Era o verdadeiro líder das criaturas, um ser de pura escuridão e malícia.

Althar, mesmo ferido, preparou-se para a nova batalha. Os habitantes de Telara, inspirados por seu guardião, levantaram-se mais uma vez, prontos para enfrentar o novo desafio. Eles sabiam que a luta pela sobrevivência de sua cidade estava longe de acabar, mas estavam determinados a lutar até o último suspiro.

A nova horda avançava, e a batalha recomeçava com uma intensidade ainda maior. A cidade de Telara, que já havia testemunhado tanto horror e bravura, agora se preparava para enfrentar seu maior desafio. E enquanto Althar, o guardião adormecido, levantava sua espada mais uma vez, a esperança e a coragem dos habitantes brilhavam como um farol na escuridão.

Enquanto a nova horda avançava, o verdadeiro líder das criaturas se destacou entre as fileiras. Ele era uma visão de puro terror, uma figura imponente envolta em sombras espessas que pareciam engolir a luz ao seu redor. Seus olhos eram dois poços de escuridão, e um manto de trevas flutuava em torno de seu corpo disforme. Os habitantes de Telara sentiam o peso de sua presença, uma sensação de desespero que ameaçava esmagar suas esperanças.

Althar, o guardião adormecido, manteve sua postura, a espada erguida com firmeza. Ele sabia que essa batalha seria a mais difícil de todas, mas também sabia que não podia falhar. Com um movimento decidido, ele avançou contra o líder das trevas, sua lâmina brilhando sob a luz crescente da manhã.

O duelo entre Althar e o líder das trevas foi um espetáculo de força e habilidade. A espada de mármore cortava o ar com precisão, mas as sombras que envolviam o líder das criaturas se moviam com uma fluidez sobrenatural, desviando e absorvendo os golpes. Cada ataque de Althar era recebido com uma retaliação implacável, as garras negras do monstro rasgando o mármore e deixando cicatrizes profundas no guardião.

Os habitantes de Telara, apesar do medo, se recusavam a desistir. Eles se uniram em um esforço coletivo, atacando as criaturas menores que ameaçavam invadir suas ruas e casas. Elara, com suas flechas forjadas pelo ferreiro Joran, continuava a disparar com uma precisão mortal, suas flechas penetrando as defesas das criaturas e causando estragos significativos.

No entanto, a luta estava longe de ser equilibrada. Os monstros eram numerosos e implacáveis, e cada vitória parecia trazer novas ondas de criaturas. A praça central de Telara estava repleta de corpos caídos e escombros, e o ar estava pesado com o cheiro de sangue e suor. Mas a determinação dos habitantes não vacilava.

Em meio ao caos, um grupo de magos da cidade, liderado pelo sábio Eldrin, começou a conjurar uma barreira mágica para proteger os civis restantes. Eles formaram um círculo ao redor dos mais vulneráveis, suas mãos brilhando com uma luz intensa enquanto recitavam encantamentos antigos. A barreira mágica começou a tomar forma, uma cúpula de luz que oferecia uma proteção temporária contra os monstros.

Althar, percebendo a importância de proteger os magos e os civis, redobrou seus esforços contra o líder das trevas. Ele desferiu um golpe poderoso, a espada de mármore cortando através das sombras e atingindo o monstro em cheio. O líder das trevas soltou um grito de dor e recuou, suas sombras ondulando como uma tempestade enfurecida.

Mas a vitória foi breve. O líder das trevas recuperou-se rapidamente, suas sombras se solidificando em garras afiadas que rasgaram o mármore de Althar. O guardião sentiu a dor de cada golpe, mas sua determinação não vacilou. Ele continuou a lutar, sua espada dançando no ar enquanto desferia golpe após golpe.

Os habitantes de Telara, vendo a bravura de Althar, sentiram uma nova onda de coragem. Eles se uniram em um ataque coordenado, atacando as criaturas menores com uma ferocidade renovada. Joran, o ferreiro, liderava um grupo de guerreiros improvisados, suas ferramentas de trabalho transformadas em armas letais. Lira, a curandeira, movia-se rapidamente entre os feridos, aplicando poções e bandagens enquanto encorajava os combatentes a continuarem lutando.

A batalha continuava, cada minuto parecendo uma eternidade. Althar e o líder das trevas estavam trancados em um duelo mortal, suas forças equilibradas em uma luta de vida ou morte. Os golpes de Althar eram precisos e poderosos, mas o monstro parecia se alimentar da escuridão ao seu redor, sua resistência aumentando a cada momento.

Então, em um ato de desespero, Althar reuniu todas as suas forças para um golpe final. Ele ergueu a espada acima de sua cabeça, a lâmina brilhando com uma luz intensa, e desceu com uma força tremenda. A espada de mármore atravessou as sombras do líder das trevas, atingindo o coração do monstro com um som retumbante.

O líder das trevas soltou um grito ensurdecedor, suas sombras se dissipando em um turbilhão de escuridão. O monstro começou a se desintegrar, seu corpo se desfazendo em pó enquanto a luz da manhã finalmente começava a romper o horizonte. Com um último suspiro, o líder das trevas desapareceu, deixando apenas uma leve bruma de escuridão no ar.

A vitória parecia estar ao alcance, mas Althar sabia que a batalha ainda não havia terminado. Os monstros menores continuavam a lutar, e a cidade de Telara ainda estava em perigo. Ele ergueu sua espada mais uma vez, pronto para enfrentar qualquer ameaça que surgisse.

Os habitantes de Telara, vendo a derrota do líder das trevas, sentiram uma nova onda de esperança. Eles atacaram com renovada determinação, suas armas improvisadas derrubando os monstros restantes. A barreira mágica dos magos manteve os civis seguros, e a luz da manhã trouxe uma sensação de alívio e renovação.

Mas o preço da vitória era alto. Muitos haviam caído, e a cidade estava em ruínas. Telara, que outrora fora um símbolo de paz e prosperidade, agora era um campo de batalha marcado pela destruição e pelo sacrifício. No entanto, a coragem e a determinação de seus habitantes brilhavam mais forte do que nunca.

Enquanto o sol começava a se levantar, Althar permaneceu em pé no centro da praça, sua espada ainda erguida. Ele sabia que a luta pela sobrevivência de Telara estava longe de acabar. As sombras ainda pairavam no horizonte, e novos desafios certamente surgiriam. Mas ele estava pronto. E com a coragem dos habitantes de Telara ao seu lado, ele sabia que poderiam enfrentar qualquer ameaça que viesse.

 

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