A Sombra das Plantas

 


A floresta de Elaria sempre foi um refúgio de beleza e paz. Os elfos, com suas longas vidas e profundo vínculo com a natureza, viviam harmoniosamente entre as árvores ancestrais e riachos cristalinos. A luz do sol filtrava-se suavemente através das copas das árvores, criando um ambiente de eterna serenidade. Mas nos últimos meses, uma sombra escura começou a se estender por Elaria, trazendo consigo uma ameaça que os elfos nunca haviam enfrentado.

Tudo começou com rumores. Caçadores e exploradores voltavam das partes mais remotas da floresta com histórias de plantas estranhas e mortais. No início, muitos descartaram esses relatos como fruto da imaginação ou exageros, mas logo as evidências se tornaram inegáveis.

Eryndor, um jovem e corajoso elfo, foi um dos primeiros a encontrar uma dessas plantas monstruosas. Ele estava caçando cervos com seu amigo Arannis quando viram algo estranho. No meio de uma clareira, havia uma planta enorme, com folhas negras e espinhos brilhantes como aço. No centro da planta, uma flor vermelha pulsava como um coração maligno. Eryndor e Arannis se aproximaram com cautela, mas antes que pudessem reagir, a planta atacou.

Vinhas espinhosas dispararam da planta, enrolando-se em torno de Arannis e puxando-o para o chão. Eryndor tentou cortá-las com sua espada, mas os espinhos eram duros como ferro. Ele assistiu, horrorizado, enquanto seu amigo era puxado para a boca da flor, que se fechou com um estalo sinistro.

Eryndor conseguiu escapar por pouco, correndo de volta para a cidade élfica de Lathlorn. Seu relato provocou pânico e desespero entre os elfos. O Conselho de Anciãos convocou uma reunião urgente para discutir a ameaça crescente.

Na grande sala do conselho, iluminada por tochas e cristais brilhantes, os anciãos ouviram atentamente a história de Eryndor. O chefe do conselho, Elrond, uma figura sábia e venerável, levantou-se para falar.

— Temos vivido em harmonia com esta floresta por milênios — disse Elrond, sua voz grave e serena. — Nunca antes enfrentamos algo assim. Essas plantas não são naturais. Algo ou alguém as trouxe aqui.

Os murmúrios encheram a sala enquanto os anciãos discutiam a situação. Alguns sugeriram que deveriam isolar as áreas afetadas e evitar qualquer contato com as plantas. Outros argumentaram que deviam destruir as plantas antes que elas se espalhassem ainda mais.

Enquanto o debate continuava, uma elfa chamada Lyara entrou na sala. Ela era uma renomada botânica e curandeira, conhecida por seu vasto conhecimento sobre as plantas de Elaria. Lyara pediu permissão para falar, e Elrond assentiu.

— Eu estudei algumas dessas plantas — começou Lyara. — Elas não são como nada que já vi antes. Elas têm uma espécie de inteligência perversa. Parecem atacar de propósito, como se estivessem defendendo algo ou seguindo ordens. Precisamos descobrir de onde elas vêm e o que as motiva.

O conselho decidiu enviar um grupo de elite para investigar a origem das plantas. Eryndor foi escolhido para liderar a expedição, acompanhado por Lyara e um grupo de guerreiros e magos. Eles partiram na manhã seguinte, armados e preparados para enfrentar o desconhecido.

A jornada levou o grupo para as partes mais escuras e inexploradas da floresta. Enquanto avançavam, encontraram mais plantas monstruosas, cada uma mais terrível que a outra. Árvores que se moviam como serpentes, flores que exalavam veneno mortal, e vinhas que pareciam ter vontade própria. Muitos do grupo foram feridos, e alguns perderam a vida.

Uma noite, enquanto acampavam em uma pequena clareira, Lyara estava examinando uma planta que haviam conseguido capturar. Ela notou algo estranho em suas raízes — um brilho fraco, quase imperceptível. Chamando Eryndor, ela mostrou a descoberta.

— Isso não é natural — disse Lyara, seus olhos verdes brilhando de curiosidade. — Parece que algo está alimentando essas plantas, algo que não pertence a este mundo.

Eryndor concordou, seu rosto sério. — Precisamos descobrir o que é. Se pudermos interromper essa fonte, talvez possamos deter essas plantas.

No dia seguinte, o grupo continuou sua jornada, seguindo a pista das raízes brilhantes. Eles passaram por regiões cada vez mais sombrias, onde a luz do sol mal penetrava. Finalmente, chegaram a uma vasta caverna escondida nas profundezas da floresta. As raízes das plantas monstruosas pareciam convergir para lá.

Ao entrar na caverna, eles se depararam com uma visão aterradora. No centro, havia uma árvore gigantesca, com tronco negro como a noite e galhos retorcidos. De suas raízes emanava uma luz púrpura sinistra, que parecia pulsar como um coração maligno. Ao redor da árvore, plantas monstruosas se aglomeravam, como guardiões leais.

Lyara se aproximou cautelosamente, sentindo a presença maligna que emanava da árvore. — Esta árvore... é a fonte. Algo ou alguém está usando esta árvore para espalhar essas plantas.

De repente, um riso baixo e ameaçador ecoou pela caverna. Do alto da árvore, uma figura encapuzada desceu, flutuando no ar. Seus olhos brilhavam com um verde venenoso, e uma aura de pura maldade emanava de seu corpo.

— Vocês, elfos tolos, pensaram que poderiam deter meu poder? — disse a figura, sua voz ecoando como um trovão. — Eu sou Thalrath, o mestre das plantas sombrias, e esta floresta será minha!

Eryndor ergueu sua espada, mas Thalrath riu novamente, e com um gesto de sua mão, as plantas ao redor atacaram. O grupo foi envolvido em uma batalha desesperada, lutando por suas vidas contra a força avassaladora das plantas sombrias.

Lyara tentou usar sua magia para conter a árvore, mas a força de Thalrath era esmagadora. Ele parecia invencível, alimentado pela própria essência da árvore maligna. Enquanto a batalha se intensificava, Eryndor percebeu que precisavam de um plano. Ele olhou para Lyara e gritou acima do caos:

— Precisamos destruir a árvore! É a única maneira de parar Thalrath!

Lyara assentiu, usando sua magia para criar uma barreira temporária ao redor deles. Eles se aproximaram da árvore, mas Thalrath, percebendo sua intenção, redobrou seus esforços para protegê-la. Vinhas espinhosas e raízes monstruosas os atacavam de todas as direções.

A luta foi feroz e desesperada. Eryndor, Lyara e os guerreiros élfico lutaram com todas as suas forças, mas a árvore parecia indestrutível. Thalrath, pairando acima, continuava a lançar feitiços poderosos, suas risadas ecoando pela caverna.

A escuridão parecia prestes a engolir tudo quando Lyara, com um olhar de determinação feroz, gritou para Eryndor: — Há uma maneira... mas é perigosa. Preciso que segure Thalrath enquanto eu conjuro um feitiço antigo.

Eryndor acenou, sabendo que suas chances eram mínimas, mas sem outra opção. Ele e os guerreiros avançaram contra Thalrath, tentando distraí-lo enquanto Lyara começava a recitar palavras em uma língua antiga e poderosa.

O tempo parecia se arrastar enquanto Lyara canalizava todo o seu poder no feitiço. As plantas ao redor se agitaram violentamente, como se pressentissem a ameaça. Eryndor, lutando com todas as suas forças, viu Thalrath hesitar, percebendo o que estava acontecendo.

— Não! — gritou Thalrath, voando em direção a Lyara. Mas era tarde demais. Com um grito final, Lyara lançou seu feitiço, uma explosão de luz e energia que atingiu a árvore negra.

A caverna foi preenchida por um brilho cegante. As plantas monstruosas se contorceram e gritaram, como se estivessem sentindo dor. Thalrath, atingido pela onda de energia, soltou um grito de agonia, sua forma começando a se desintegrar.

E então, o silêncio. Quando a luz diminuiu, Eryndor viu que a árvore negra estava destruída, suas raízes queimadas e murchas. Thalrath havia desaparecido, e as plantas monstruosas estavam morrendo, suas formas retorcidas e sem vida espalhadas pela caverna.

Mas a vitória teve um custo. Lyara estava caída no chão, exausta e sem forças. Eryndor correu até ela, segurando-a nos braços.

— Você fez isso, Lyara. Você nos salvou — disse ele, sua voz cheia de gratidão e preocupação.

O sacrifício de Lyara não foi em vão. A destruição da árvore negra enfraqueceu as plantas monstruosas, mas a ameaça estava longe de ser erradicada. Os elfos retornaram a Lathlorn com a notícia da vitória, mas também com um alerta: a floresta ainda escondia perigos imensuráveis.

Nas semanas que se seguiram, a paz que os elfos esperavam não se concretizou. Novas plantas monstruosas começaram a aparecer, ainda mais poderosas e terríveis. Não eram apenas plantas comuns; eram criaturas híbridas, meio plantas, meio humanoides, com uma inteligência sinistra e um ódio profundo pelos elfos.

Eryndor, agora visto como um herói, se sentia sobrecarregado pela responsabilidade. Ele e os guerreiros de Lathlorn estavam constantemente em patrulha, tentando conter a ameaça que crescia a cada dia. As feridas da batalha anterior ainda estavam frescas, tanto física quanto emocionalmente.

Uma noite, enquanto Eryndor descansava em sua tenda, foi acordado por um alarme. Saindo às pressas, ele encontrou a cidade em alvoroço. Uma patrulha retornara com notícias terríveis: uma horda de plantas humanoides estava marchando em direção a Lathlorn.

Os preparativos para a batalha foram rápidos e silenciosos. Os elfos, conhecidos por sua habilidade com arcos e espadas, se posicionaram ao longo das muralhas de Lathlorn, prontos para defender sua casa. Eryndor, liderando o exército, sentia o peso da responsabilidade em seus ombros.

O amanhecer trouxe com ele a visão aterradora do exército inimigo. As plantas humanoides eram altas e robustas, com corpos feitos de galhos e vinhas entrelaçados. Seus olhos brilhavam com uma luz verde maléfica, e suas "mãos" eram garras afiadas. Entre elas, havia criaturas maiores, plantas monstruosas que pareciam mesclar a brutalidade das bestas com a astúcia dos guerreiros.

A batalha começou com um rugido ensurdecedor. As plantas humanoides avançaram, e os elfos dispararam suas flechas em uníssono. Muitas das criaturas caíram, perfuradas pelos projéteis, mas outras continuaram, implacáveis. Quando os inimigos chegaram às muralhas, a luta corpo a corpo se iniciou.

Eryndor estava no meio da batalha, sua espada brilhando enquanto cortava através das vinhas e galhos. Ao seu lado, os guerreiros elfos lutavam com uma ferocidade desesperada. Eles sabiam que não estavam apenas lutando por suas vidas, mas pela sobrevivência de toda sua raça.

Em meio ao caos, Eryndor viu uma figura familiar — Lyara. Para seu espanto, ela estava de pé, lutando ao lado dos guerreiros. Ele correu até ela, espantado.

— Lyara! Você... você está viva! — exclamou ele, mal acreditando em seus próprios olhos.

Lyara sorriu, embora estivesse visivelmente exausta. — A magia que usei me drenou, mas não me matou. Eu não podia deixar vocês enfrentarem isso sozinhos.

Juntos, eles avançaram, cortando e queimando as plantas humanoides. Mas a batalha estava longe de ser vencida. A cada planta caída, parecia que duas novas surgiam para tomar seu lugar.

Os elfos recuaram lentamente, forçados a abandonar partes da cidade para manter a linha defensiva. Os guerreiros cansados mal conseguiam conter as ondas intermináveis de inimigos. Foi então que Elrond, o chefe do conselho, decidiu usar a última carta na manga dos elfos — a magia ancestral.

No centro de Lathlorn, um antigo círculo de pedras era guardado por gerações. Era um lugar de poder, onde a magia dos antigos elfos ainda residia. Elrond, junto com os magos mais poderosos da cidade, começou a canalizar essa energia. Suas vozes se ergueram em um cântico antigo, e uma luz azul começou a irradiar do círculo.

As plantas humanoides hesitaram, como se sentissem a ameaça. Eryndor e Lyara, percebendo o que estava acontecendo, lutaram para proteger o círculo a todo custo. A luz azul se intensificou, formando uma barreira ao redor dos elfos. As plantas humanoides atacaram freneticamente, mas a barreira os repeliu.

Finalmente, com um estrondo ensurdecedor, a magia ancestral foi liberada. Uma onda de energia varreu a cidade, incinerando as plantas humanoides e curando os feridos. Quando a luz se dissipou, a cidade estava silenciosa, exceto pelos gemidos dos feridos e o som das chamas crepitando.

Eryndor e Lyara se olharam, exaustos, mas aliviados. A batalha havia sido vencida, mas o custo foi alto. Muitos elfos caíram, e a cidade de Lathlorn estava em ruínas.

Mas a paz durou pouco. Nas semanas seguintes, os sobreviventes começaram a relatar avistamentos de novas criaturas. Estas não eram apenas plantas ou humanoides, mas algo ainda mais terrível — híbridos com inteligência e a capacidade de usar magia.

Os elfos sabiam que precisavam se preparar para a próxima onda. Eryndor e Lyara, agora vistos como líderes, começaram a organizar a defesa e a treinar novos guerreiros. Eles também enviaram mensageiros para outras cidades élficas, buscando ajuda e aliados.

Uma noite, enquanto Eryndor estava de guarda na muralha, viu algo no horizonte que fez seu sangue gelar. Uma figura solitária se aproximava, envolta em uma aura sombria. Ele reconheceu imediatamente — era Thalrath, o mestre das plantas sombrias, de volta dos mortos.

Thalrath parou a uma curta distância das muralhas, um sorriso cruel em seu rosto. — Vocês pensaram que poderiam me derrotar? — sua voz ecoou pela noite. — Eu sou eterno. E desta vez, não haverá escapatória.

Eryndor sentiu uma onda de desespero, mas também uma determinação feroz. Ele sabia que esta seria a batalha final. Com um grito, ele convocou os guerreiros e magos restantes, preparando-se para enfrentar Thalrath e seu exército uma última vez.

A manhã trouxe consigo a visão aterradora do novo exército de Thalrath. As criaturas eram ainda mais monstruosas, com corpos feitos de vinhas, galhos e metal retorcido. Elas brandiam armas e escudos, e seus olhos brilhavam com uma inteligência maléfica.

A batalha começou com um choque de forças. As muralhas de Lathlorn tremeram sob o impacto, e os elfos lutaram desesperadamente para manter suas posições. Thalrath, flutuando acima do campo de batalha, lançava feitiços de destruição, sua risada ecoando como um trovão.

Lyara, usando toda a magia que ainda possuía, tentou conter Thalrath, mas ele era poderoso demais. Cada feitiço que ela lançava era absorvido ou repelido com facilidade. Eryndor, ao ver a situação desesperadora, decidiu que precisavam de um novo plano.

— Precisamos derrubá-lo do céu! — gritou Eryndor para Lyara. — Se conseguirmos trazê-lo para o chão, talvez tenhamos uma chance!

Lyara concordou, e juntos começaram a formular um plano. Eles usariam uma combinação de magia e armadilhas para forçar Thalrath a descer. Enquanto isso, os guerreiros élficos lutavam bravamente, tentando manter a linha.

A batalha se arrastou por horas. Os elfos estavam exaustos, mas não desistiam. Finalmente, Eryndor e Lyara conseguiram criar uma armadilha mágica poderosa. Eles atraíram Thalrath para uma área específica, onde a armadilha foi ativada.

Com um grito de raiva, Thalrath foi puxado para o chão, suas asas negras sendo rasgadas pela força da magia. Eryndor e Lyara correram para ele, prontos para dar o golpe final. Mas Thalrath, mesmo caído, era incrivelmente forte. Ele lutou ferozmente, suas vinhas e raízes atacando os dois elfos.

A luta foi brutal. Eryndor, usando todas as suas habilidades, conseguiu desviar dos ataques de Thalrath e acertar golpes precisos. Lyara, usando a magia restante, lançou feitiços de contenção. Thalrath, enfraquecido, mas ainda perigoso, começou a recuar.

— Vocês não podem me derrotar! — gritou Thalrath, sua voz cheia de ódio. — Eu sou eterno! Esta floresta será minha!

Eryndor, com um último esforço, conseguiu desferir um golpe decisivo. A espada dele atravessou o coração de Thalrath, e o mestre das plantas sombrias soltou um grito agonizante. Sua forma começou a desintegrar, e a escuridão ao redor dele começou a dissipar.

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