Estrela do Amanhã: parte: 01
A nave Estrela do Amanhã deslizou silenciosamente
pelo espaço, seu casco prateado refletindo a luz distante de uma estrela
vermelha que mal iluminava o planeta abaixo. Após anos vagando pelo vazio
interestelar, os exploradores da Terra finalmente encontraram um novo destino.
Este planeta, catalogado como T-97, fora identificado em imagens de
satélites como um possível mundo habitável. Análises preliminares haviam
revelado a presença de água, atmosfera e um clima moderado. Era tudo o que a
tripulação da Estrela do Amanhã precisava para dar início à primeira missão de
exploração.
Dentro da nave, o capitão Renan Marinho estava em pé
diante da janela da ponte de comando, seus olhos fixos no planeta abaixo. A
paisagem vista do espaço era fascinante: vastos oceanos azul-escuros,
continentes cobertos por uma vegetação roxa desconhecida e nuvens em tons de
cinza e verde que se moviam lentamente pelo céu.
— Finalmente chegamos, Capitão — disse Dr. Sofia
Navarro, a bióloga-chefe da missão, sua voz calma e profissional. — As
leituras iniciais mostram níveis de oxigênio adequados. No entanto,
recomendaria cautela antes de removermos qualquer equipamento de proteção.
Renan acenou com a cabeça, mas manteve os olhos na janela.
— Eu concordo. Não sabemos o que podemos encontrar lá
embaixo. Até confirmarmos que o ar é completamente seguro, manteremos as roupas
de proteção.
Sofia assentiu e saiu para preparar a equipe de exploração.
O grupo principal consistia de cinco especialistas: Renan, o capitão da nave e
líder da missão; Sofia, a bióloga; Dr. Ivan Akimov, o geólogo; Júlia
Antunes, uma engenheira de campo; e Samuel Monteiro, o médico da
tripulação. Todos foram meticulosamente treinados para lidar com situações
desconhecidas e ambientes alienígenas.
Horas depois, a nave pousou suavemente na superfície do
planeta, levantando uma nuvem de poeira fina e púrpura que pairou no ar por
alguns instantes. A equipe, agora vestida com suas roupas de proteção, desceu
pela rampa. O solo sob seus pés era macio, quase esponjoso, e o vento soprava
gentilmente em suas direções, trazendo um aroma metálico no ar.
— Que lugar fascinante, — murmurou Júlia, seus olhos
ampliados pelos visores do capacete enquanto ela ajustava os sensores. — Nunca
vi algo assim.
— Vamos manter o foco, — disse Renan, tentando conter
o entusiasmo da tripulação. — Precisamos realizar as verificações padrão
antes de qualquer coisa. Começaremos com a coleta de amostras do solo e da
atmosfera.
O grupo trabalhou em silêncio por horas. Ivan, agachado no
solo, usava uma pequena escavadeira portátil para retirar amostras das camadas
inferiores do terreno. Sofia analisava uma série de plantas que cresciam em
arbustos baixos e densos, suas folhas pontiagudas e de um tom profundo de roxo.
Enquanto o sol do planeta começava a se pôr, lançando uma
luz avermelhada sobre a paisagem, os resultados das análises começaram a
chegar.
— O ar aqui parece ser seguro para respirar, —
informou Sofia, verificando seus dados. — Níveis de oxigênio, nitrogênio e
outros gases são praticamente idênticos aos da Terra. Não encontramos nenhuma
toxina ou micro-organismos prejudiciais até agora.
Renan trocou um olhar com os outros. Todos estavam exaustos
de suas roupas de proteção, que começavam a ficar sufocantes e pesadas.
— Tirem os capacetes, — ele ordenou. — Mas façam
isso devagar. Vamos garantir que tudo está seguro.
Com cautela, um a um, eles removeram os capacetes. O ar de
T-97 era frio, mas fresco, com um leve toque metálico que não era desagradável.
Eles respiraram fundo, aproveitando a liberdade de sentir o vento em seus
rostos pela primeira vez desde que haviam deixado a Terra.
— É incrível, — disse Samuel, com um sorriso largo no
rosto. — Finalmente... ar livre.
— Agora podemos começar a explorar de verdade, —
disse Júlia, olhando para a vastidão à frente. — Há muito mais a ver neste
planeta.
Com as roupas de proteção guardadas, a equipe começou a
explorar o entorno. A vegetação era exuberante, mas completamente alienígena,
com plantas de formas bizarras e cores impossíveis. Árvores torcidas, com troncos
que pareciam se entrelaçar como serpentes, estendiam-se pelo horizonte, e o
chão estava coberto por um musgo espesso que brilhava fracamente ao anoitecer.
— Vamos coletar mais amostras da vegetação e procurar por
sinais de vida animal, — sugeriu Sofia, enquanto andava lentamente entre os
arbustos, seus olhos atentos a cada detalhe.
De repente, Samuel parou abruptamente, sua expressão se
tornando rígida.
— Vocês ouviram isso?
Todos ficaram quietos, o silêncio pesado caindo sobre eles.
A princípio, parecia que não havia som algum, apenas o vento suave movendo as
folhas. Mas então, um leve zumbido começou a preencher o ar, quase como se algo
estivesse vibrando nas profundezas do solo.
— Ivan, você está ouvindo isso? — perguntou Renan.
O geólogo assentiu, visivelmente intrigado.
— Está vindo debaixo da terra. Deve haver alguma
atividade sísmica ou um fenômeno natural desconhecido acontecendo. Vou usar o
sismógrafo portátil para verificar.
Ivan se ajoelhou e começou a ajustar o aparelho, enquanto o
zumbido aumentava de intensidade. As plantas ao redor pareciam reagir ao som,
movendo-se levemente, como se fossem atraídas ou repelidas pela vibração.
— Isso é estranho, — comentou Júlia, observando as
plantas. — Elas estão... respondendo ao som?
De repente, o solo sob os pés da equipe tremeu levemente. Um
tremor quase imperceptível, mas o suficiente para fazer com que todos trocassem
olhares alarmados.
— É melhor tomarmos cuidado, — disse Renan. — Não
sabemos o que pode estar causando isso. Vamos manter distância dessas plantas e
continuar a análise.
Enquanto Ivan continuava a monitorar as leituras sísmicas, o
grupo seguiu em direção a uma formação rochosa que havia sido detectada pelos
sensores da nave. Era uma série de penhascos altos e escarpados que se elevavam
ao longe, além da vegetação densa.
Ao se aproximarem dos penhascos, perceberam que as rochas
tinham uma coloração verde-acinzentada, e, curiosamente, estavam cobertas por
uma espécie de líquen brilhante. O zumbido que eles ouviam parecia mais forte
ali.
— Isso é fascinante, — murmurou Ivan. — Eu nunca
vi algo assim antes. Parece que há algo emanando dessas rochas...
Sofia se aproximou, tocando levemente o líquen com um
instrumento de análise. O material se desfez em pequenos fragmentos, como
cinzas, ao contato.
— Devemos tomar cuidado. Não sabemos se isso é tóxico.
Mas antes que pudesse continuar, uma sombra enorme passou
rapidamente sobre eles, cobrindo-os momentaneamente da luz do pôr do sol. Todos
congelaram e olharam para o céu.
Uma criatura colossal, que se movia com uma graça
surpreendente para seu tamanho, voava lentamente sobre eles. Tinha asas longas
e translúcidas, quase como as de uma libélula, e seu corpo parecia feito de uma
substância cristalina que refletia a luz em todas as direções.
— Meu Deus... o que é aquilo? — sussurrou Júlia,
incapaz de desviar os olhos.
— Parece uma forma de vida nativa, — disse Renan,
também impressionado. — Não parece hostil, mas vamos manter distância.
Eles observaram a criatura se afastar até desaparecer no
horizonte. O grupo ficou em silêncio por alguns momentos, absorvendo o que
acabaram de ver.
— Este planeta... tem muito mais do que imaginávamos,
— disse Sofia, a voz cheia de admiração e cautela. — Precisamos ser ainda
mais cuidadosos daqui para frente.
Renan assentiu, seus pensamentos correndo enquanto ele
tentava entender o que estava acontecendo.
— Vamos continuar nossa exploração, mas com extrema
cautela. Algo me diz que este planeta guarda muitos segredos, e alguns deles
podem não ser tão pacíficos quanto aquela criatura.
E com isso, eles seguiram adiante, sem saber que estavam
prestes a descobrir algo muito mais perturbador.
A floresta ao redor da equipe parecia viva, mas de uma
maneira que ninguém na tripulação conseguia explicar. As árvores roxas e
retorcidas pareciam ter se movido desde a última vez que olharam ao redor, como
se a paisagem estivesse em constante mudança. Não era apenas a vegetação que
parecia estar alterando suas formas, mas até o solo, que antes era coberto por
um musgo brilhante, agora mostrava rachaduras escuras e profundas, emanando um
calor estranho.
— Isso está errado... — murmurou Sofia, franzindo a
testa enquanto observava o scanner portátil em suas mãos. — As leituras
estão mudando o tempo todo. Não faz sentido. A vegetação parecia estável, mas
agora... é como se ela estivesse... reagindo a alguma coisa.
Júlia, que caminhava ao lado, olhou em volta com
desconforto.
— Você está dizendo que essa floresta está se mexendo?
— ela perguntou, a voz carregada de incredulidade e nervosismo.
— De alguma forma, sim, — respondeu Sofia. — Mas é
sutil, quase imperceptível. Parece estar mudando quando não estamos olhando
diretamente para ela.
O zumbido que haviam ouvido antes agora parecia mais
distante, mas uma sensação de desconforto crescia entre os membros da equipe.
Renan parou de repente, erguendo a mão para que todos ficassem em silêncio. O
vento que soprava suavemente entre as árvores parecia carregar um som
distante... um grito.
— Vocês ouviram isso? — perguntou Samuel, seus olhos
arregalados.
— Sim, — respondeu Renan, já puxando o comunicador
preso ao seu uniforme. — Aqui é o capitão Marinho. Todas as unidades da
nave, respondam imediatamente.
Houve um momento de silêncio, seguido pela voz abafada de um
dos tripulantes.
— Aqui é a equipe de suporte. Estamos todos na nave,
exceto... — a voz hesitou. — Perdemos contato com o sargento Almeida.
Ele saiu para inspecionar o perímetro há vinte minutos e não respondeu mais.
Renan trocou um olhar preocupado com os outros.
— Vamos investigar. Todos juntos. Ninguém se separa,
— ele ordenou.
A equipe começou a se mover pela floresta densa, agora em
alerta máximo. As árvores pareciam ainda mais ameaçadoras enquanto a luz do sol
se esvaía, e sombras se alongavam de forma quase antinatural. O musgo brilhante
que cobria o chão parecia perder parte de seu brilho, tornando o ambiente ainda
mais sinistro.
— Isso é estranho..., — murmurou Ivan enquanto
caminhava atrás de Renan. — Estamos andando em círculos? Essa parte da
floresta... já passamos por aqui antes.
Sofia verificou seu localizador.
— Parece que sim, mas é impossível. Estamos seguindo em
linha reta desde a nave. Algo está... distorcendo o caminho.
De repente, um som abafado, como o som de algo pesado caindo
no chão, ecoou à frente. Todos pararam.
— Samuel, verifica se consegue captar sinais de vida,
— disse Renan.
O médico rapidamente puxou seu scanner e o ajustou. Ele
olhou para os números na tela, franzindo a testa.
— Não há nada... nenhum sinal de vida além de nós. Mas é
impossível, eu juro que ouvi algo.
Avançando com cautela, o grupo chegou a uma pequena
clareira. No centro da área aberta, havia marcas no solo, como se algo tivesse
sido arrastado para dentro da floresta. Os arbustos ao redor estavam achatados,
e pequenas manchas de sangue brilhavam à luz fraca.
— Isso é sangue, — disse Samuel, agachando-se para
analisar mais de perto. — Parece fresco.
Renan estreitou os olhos, observando as marcas.
— Mas onde está Almeida? Não faz sentido... ele
simplesmente sumiu.
— Capitão! — gritou Júlia, sua voz tremendo de
surpresa.
Ela apontou para o chão próximo a uma das árvores. Havia um
pequeno objeto prateado meio coberto de musgo: o comunicador de Almeida. Ao se
aproximarem, perceberam que o aparelho estava amassado, como se tivesse sido
esmagado com força.
— Algo o levou, — murmurou Sofia. — Mas o quê?
Enquanto tentavam processar o que havia acontecido, o
ambiente ao redor começou a mudar de novo. As árvores, antes imóveis, pareciam
se curvar levemente na direção deles. O som do vento ficou mais forte, como se
sussurrasse através das folhas.
— Isso está ficando pior, — disse Ivan, agora
claramente preocupado. — Se essa floresta está mudando, não sabemos se
conseguiremos voltar para a nave.
— Não vamos entrar em pânico, — disse Renan, tentando
manter a calma. — Precisamos voltar para a nave e chamar reforços. Não temos
ideia do que estamos enfrentando aqui.
Mas enquanto falava, o chão sob seus pés tremeu
ligeiramente, e uma fenda se abriu na terra, apenas alguns metros à frente. Um
vapor esverdeado escapou das profundezas, acompanhado por um som gutural, como
se algo estivesse se mexendo lá embaixo.
— Saiam de perto disso! — gritou Renan, puxando Sofia
e Samuel para trás enquanto o vapor se dissipava lentamente.
O zumbido, antes distante, agora parecia vir diretamente
debaixo deles. Era como se o próprio planeta estivesse emitindo um aviso.
— Voltem para a nave, agora! — Renan ordenou.
Eles começaram a correr pela floresta, seus corações
disparados. No entanto, à medida que corriam, o cenário parecia se transformar
à sua volta. Árvores surgiam onde antes não havia nada, e o solo parecia mudar
de cor, passando de um verde-musgo para um vermelho profundo, quase sangrento.
As sombras das árvores pareciam esticar-se, como se tentassem agarrá-los.
— Isso não faz sentido! — gritou Júlia, tentando
acompanhar o grupo. — Estamos correndo em círculos!
Renan parou abruptamente, olhando em volta, ofegante.
— Algo está nos manipulando... ou nos desorientando. Este
planeta... ele está vivo de alguma forma.
— Mas e o Almeida? — perguntou Samuel, seus olhos
cheios de desespero. — Seja lá o que for que o pegou... nós podemos ser os
próximos.
Enquanto discutiam freneticamente sobre o que fazer, um
grito agudo ecoou pela floresta. Não era humano, mas uma mistura grotesca de
dor e raiva. O som reverberou pelas árvores, fazendo com que todos se
arrepiassem.
— Não podemos ficar aqui, — disse Sofia, sua voz
tremendo pela primeira vez. — Seja o que for, não está muito longe.
O grupo começou a se mover novamente, mas a floresta parecia
estar se fechando ao redor deles. A vegetação tornava-se mais densa, as árvores
mais altas e as sombras mais profundas. O caminho de volta à nave parecia cada
vez mais inalcançável.
Então, de repente, algo surgiu das sombras à frente. Uma
figura cambaleante, coberta de musgo e sujeira, com as roupas rasgadas e o
rosto manchado de sangue.
— Almeida! — gritou Renan, correndo em direção ao
homem.
Mas ao se aproximar, Renan parou bruscamente. Não era
Almeida. Ou, pelo menos, não o Almeida que conheciam. Os olhos do homem estavam
completamente brancos, sua pele pálida e flácida, como se algo estivesse
drenando sua vida.
Ele abriu a boca, mas o som que saiu foi um gemido baixo e
horrível.
— Meu Deus... o que aconteceu com ele? — murmurou
Samuel, horrorizado.
Antes que pudessem reagir, a figura de Almeida caiu de
joelhos, e seu corpo começou a se desfazer, como se estivesse sendo consumido
pela própria terra. O musgo ao redor de suas pernas começou a crescer
rapidamente, cobrindo-o completamente em questão de segundos.
De volta à segurança da nave, os membros da tripulação
estavam visivelmente abalados. O ar no interior da sala de controle estava
pesado, e o silêncio era interrompido apenas pelos sons dos scanners e das
comunicações internas. Renan, Sofia, Samuel, Ivan, e Júlia estavam todos ao
redor de uma mesa holográfica, onde uma representação tridimensional da
floresta ao redor da nave pulsava com luzes e marcas de varredura.
— Não faz sentido, — disse Sofia, examinando as
leituras mais uma vez. — O solo, as árvores, e até o ar... tudo parece estar
em constante mudança, como se o planeta estivesse se adaptando à nossa
presença. Cada varredura dá resultados diferentes.
Renan, com as mãos no queixo, observava o mapa holográfico
enquanto as linhas de varredura iam se formando e desaparecendo.
— Você está sugerindo que o planeta está vivo? Que ele
está... consciente? — perguntou, sua voz baixa e pensativa.
— Não sei se é exatamente isso, — respondeu Sofia,
hesitando. — Mas, definitivamente, há algo anômalo aqui. A vegetação e o
ambiente não se comportam de acordo com as leis que conhecemos. E o que
aconteceu com Almeida... — ela deixou a frase no ar, incapaz de expressar o
horror do que haviam presenciado.
Samuel, que estava de pé próximo ao painel de comunicações,
levantou a voz.
— Ainda estamos tentando contato com a central. Eles
sabem que estamos aqui, mas a comunicação está intermitente. O que quer que
esteja interferindo nos nossos sinais está em toda parte.
De repente, um alarme suave soou pela nave, e as luzes
piscantes de alerta iluminaram a sala.
— Capitão! — chamou Ivan, seus olhos fixos na tela do
radar. — Estou captando uma nova assinatura energética entrando na órbita do
planeta. Parece... outra nave.
Renan se aproximou do console e olhou para a tela. O radar
mostrava uma pequena nave entrando na atmosfera do planeta, descendo
rapidamente em direção à superfície. Ele ativou o comunicador.
— Aqui é o capitão Renan Marinho da Expedição Gaia.
Identifique-se.
Após alguns segundos de estática, uma voz firme respondeu.
— Aqui é o Comandante Pereira da Estrela Nova.
Fomos enviados para auxiliar na busca por seu tripulante desaparecido. Estamos
a caminho do seu ponto de aterrissagem.
Renan trocou olhares com Sofia e Samuel.
— Comandante Pereira, é um alívio ouvi-lo. Estamos em uma
situação delicada aqui. O planeta está se comportando de maneira estranha, e
perdemos um de nossos homens. Precisamos de todo o suporte possível.
— Entendido, capitão. Estamos trazendo uma equipe de
reforço com equipamentos mais avançados para análise do terreno. Chegaremos em
poucos minutos.
Enquanto a comunicação encerrava, o zumbido dos motores da Estrela
Nova ficou audível através das paredes da nave. Eles observavam pelo painel
de visualização enquanto a outra nave aterrissava suavemente na clareira
próxima, levantando uma nuvem de poeira e fragmentos de vegetação ao redor.
Minutos depois, um grupo de cinco pessoas em trajes de
exploração avançados desceu pela rampa da Estrela Nova e se dirigiu à
nave de Renan. Comandante Pereira, um homem alto de cabelo grisalho e porte
militar, liderava a equipe. Atrás dele, havia dois cientistas e dois soldados,
todos carregando equipamentos de análise e armas.
— Capitão Marinho, — cumprimentou Pereira, apertando
a mão de Renan assim que entrou na nave. — Entendemos que a situação está...
peculiar, para dizer o mínimo. Pode nos atualizar?
Renan rapidamente explicou o que haviam enfrentado desde que
pousaram: a mudança constante na floresta, a aparição de Almeida em estado
deformado e o desaparecimento subsequente dele na vegetação.
— Isso é muito mais do que esperávamos, — disse um
dos cientistas da equipe de Pereira, uma mulher chamada Dra. Helena. — Esse
tipo de comportamento ambiental é altamente incomum, mas não impossível. Em
alguns planetas desconhecidos, a biosfera pode evoluir a ponto de reagir aos
invasores de maneiras que nunca vimos.
— Estamos lidando com uma forma de defesa? —
perguntou Sofia.
Helena fez uma pausa, refletindo.
— Possivelmente. Talvez o planeta esteja interpretando
nossa presença como uma ameaça. Mas precisamos de mais dados para confirmar
isso.
Pereira assentiu, voltando-se para Renan.
— Vamos formar duas equipes. Uma vai reforçar a segurança
aqui na nave enquanto a outra vai à floresta. Nossa prioridade é localizar o
sargento Almeida, ou o que restou dele, e investigar essa distorção ambiental.
A equipe foi organizada rapidamente. Pereira e Renan
liderariam o grupo de exploração, enquanto Sofia e Júlia permaneceriam na nave
com Dra. Helena para monitorar as mudanças no ambiente à distância. Samuel,
Ivan e os dois soldados da Estrela Nova acompanharam Pereira e Renan na
expedição.
Com trajes de proteção e armas em mãos, eles deixaram a
nave, voltando à floresta que agora parecia ainda mais ameaçadora. O ar ao
redor estava quente e úmido, e um silêncio estranho pairava sobre a vegetação.
Era como se o planeta estivesse aguardando, observando cada passo deles.
— Dessa vez, estamos mais preparados, — disse Renan
enquanto ajustava o visor do capacete. — Seja o que for que nos espera, não
seremos pegos de surpresa.
Enquanto caminhavam, os scanners mais avançados da equipe de
Pereira começaram a captar algo. Pequenas distorções energéticas, quase
imperceptíveis, emanavam das árvores, do solo e até do ar. O zumbido familiar
que antes parecia distante agora estava mais próximo, como um leve toque nos
ouvidos de todos.
— Essas leituras... são quase como se o planeta estivesse
vivo, — comentou Samuel, observando a tela de seu dispositivo.
— Estamos recebendo a mesma coisa de volta na nave, —
confirmou Dra. Helena pela comunicação. — As árvores, o solo, até a
atmosfera... tudo aqui está emitindo alguma forma de energia.
Então, de repente, o grupo parou.
— Capitão, — disse um dos soldados, apontando para o
chão à frente. — Acho que encontramos algo.
No chão, coberto parcialmente por folhas e musgo, estava um
conjunto de marcas profundas e irregulares. Pareciam pegadas, mas eram largas e
deformadas, como se algo muito pesado e não humano tivesse passado por ali
recentemente.
Renan se ajoelhou e tocou o solo, sentindo o calor que
emanava das marcas.
— Isso não é de Almeida... seja lá o que fez isso, ainda
está por aí.
Pereira trocou olhares com os outros.
— Mantenham os olhos abertos. Continuem a varredura.
O grupo continuou avançando, seus passos lentos e
cautelosos. A floresta parecia mais densa e as árvores mais altas, quase como
se estivessem se fechando ao redor deles. As sombras se alongavam de maneira
antinatural, e o som do vento nas folhas se tornava mais agourento.
Então, outro grito rasgou o silêncio, desta vez mais perto.
Era um som distorcido, inumano, mas claramente de dor.
— Ali! — apontou Samuel.
Eles correram em direção ao som, atravessando a vegetação
rasteira até chegarem a uma pequena clareira. No centro, o que restava de
Almeida estava parcialmente preso a uma árvore, seu corpo coberto por uma
espécie de musgo brilhante que parecia estar se alimentando dele.
— Santo Deus..., — murmurou um dos soldados.
Almeida, ou o que restava dele, estava imóvel. O musgo
parecia pulsar, como se estivesse respirando, e seu corpo estava deformado,
como se a própria natureza o estivesse absorvendo.
Os soldados mantinham suas armas apontadas para a vegetação
ao redor, os dedos prontos no gatilho. A atmosfera na floresta era opressiva,
como se o planeta estivesse observando cada movimento deles. O corpo de
Almeida, preso à árvore e coberto pelo musgo brilhante e pulsante, era uma
visão aterradora, mas antes que pudessem se aproximar, um som gutural ecoou
pelas árvores.
— O que foi isso? — murmurou Samuel, apertando sua
arma com mais força.
Antes que alguém pudesse responder, uma criatura saltou das
sombras. Seus olhos eram vazios, sua pele era uma mistura de carne exposta e
uma camada translúcida de tecido que parecia parte vegetal, parte orgânica.
Tinha a forma vaga de um humanoide, mas seus membros eram longos e finos
demais, e sua boca se abria num grito horrendo que não parecia ser de nenhum
ser vivo conhecido.
— ATIREM! — gritou Renan, ao ver a criatura se
aproximar rapidamente.
Os soldados não hesitaram. Um som ensurdecedor de tiros
rompeu o silêncio da floresta, balas cortando o ar enquanto atingiam a
criatura. A besta caiu no chão com um baque surdo, seus membros se contorcendo
de forma bizarra antes de finalmente parar. Mesmo caída, seu corpo se retorcia,
como se algo dentro dela ainda estivesse vivo, mas lentamente, o movimento
cessou.
Os soldados se aproximaram cautelosamente, mantendo as armas
apontadas para o corpo caído. A criatura parecia não mais se mover, mas sua
presença continuava a encher o ar com uma sensação de mal-estar. Seu corpo,
agora imóvel, emitia um cheiro pungente de algo podre e vegetal.
— O que diabos é isso? — perguntou um dos soldados,
com o rosto pálido, embora sua voz mantivesse a firmeza profissional.
Renan se abaixou ao lado da criatura, observando-a de perto.
O que ele viu era perturbador. Não era completamente um ser orgânico; parecia
ser uma fusão entre carne e planta. Havia veias de musgo brilhante correndo por
seu corpo, assim como as que cobriam Almeida.
— Isso não é natural, — murmurou Renan. — Parece
que o planeta está usando... matéria viva para criar essas coisas.
— Como assim, capitão? — perguntou Samuel, ainda em
alerta.
— Talvez o que estamos vendo seja algum tipo de defesa
biológica. O planeta está transformando qualquer ser vivo que ele captura em...
isso.
— O sargento Almeida... ele estava sendo absorvido pela
árvore, — disse um dos soldados, com o olhar vidrado no corpo distorcido do
monstro. — Será que ele também foi transformado em algo como isso?
— É uma possibilidade, — disse Renan com gravidade. —
E se for, estamos todos em risco.
Com o corpo da criatura diante deles, a equipe sabia que não
poderia ficar ali por mais tempo. Precisavam retornar à nave com o espécime e
as informações que haviam coletado. Renan instruiu os soldados a amarrarem o
corpo da criatura e a levarem de volta para os cientistas na nave, na esperança
de que aquilo fornecesse alguma pista sobre o que estava acontecendo no
planeta.
De volta à nave, a equipe de exploração foi recebida por
olhares ansiosos. Dra. Helena e Sofia estavam à espera, com os olhos fixos na
equipe enquanto eles arrastavam o corpo da criatura pela rampa. O cheiro
nauseante imediatamente tomou conta do espaço, e todos se afastaram levemente.
— O que é isso? — perguntou Dra. Helena, cobrindo a
boca e o nariz com a mão, ao mesmo tempo em que seu rosto revelava uma mistura
de curiosidade científica e repulsa.
— Acho que encontramos o possível culpado pelo
desaparecimento de Almeida, — disse Renan, jogando o corpo no chão metálico
da nave com um baque seco. — Ou, pelo menos, uma das formas de vida que
estão transformando esse planeta em algo muito mais perigoso do que
imaginávamos.
Dra. Helena e Sofia se aproximaram com cuidado. Helena puxou
um scanner portátil e começou a examinar o corpo da criatura, seus olhos se
estreitando enquanto as leituras apareciam na tela.
— As células dessa criatura... — começou Helena, sua
voz trêmula com a surpresa do que estava vendo. — Não são apenas de origem
orgânica, como as nossas. Há traços de vegetação, como se o tecido vegetal e
animal tivesse se fundido. Isso é incrível... e assustador. O planeta está
literalmente criando vida híbrida.
Sofia observou de perto, franzindo a testa.
— Mas o que causaria algo assim? O planeta está reagindo
à nossa presença de forma hostil?
— Acho que é mais do que isso, — disse Helena. — É
como se o planeta estivesse tentando se defender, absorvendo qualquer forma de
vida que entre em contato com ele e transformando-a em parte de sua própria
estrutura biológica. A vegetação e os organismos estão sendo usados para
criar... seres de defesa.
Samuel, ainda com o rosto tenso, cruzou os braços.
— Então, estamos lidando com um planeta inteiro que pode
nos transformar em... isso? — ele indicou o corpo da criatura com um gesto.
— Sim, — respondeu Helena, secamente. — E se não
tomarmos cuidado, podemos acabar exatamente como Almeida.
Renan esfregou o rosto com as mãos, exausto. A situação
estava cada vez mais complexa e perigosa. Com a chegada da Estrela Nova,
havia mais apoio, mas também mais vidas em risco. Aquele planeta estava se
mostrando uma armadilha mortal.
— Precisamos de uma solução e rápido, — disse Renan.
— Se o planeta está se adaptando, então talvez estejam estudando nossos
movimentos. Se continuarmos assim, não teremos muito tempo antes que ele decida
atacar de novo.
Dra. Helena olhou para Renan, seu rosto tenso com a
gravidade da situação.
— Vou começar a analisar o material genético dessa
criatura imediatamente. Talvez haja uma maneira de descobrir como essa fusão
biológica funciona e, quem sabe, possamos encontrar uma forma de interrompê-la.
Renan assentiu.
— Faça o que puder, doutora. Enquanto isso, vamos manter
a segurança ao redor da nave e continuar monitorando as flutuações na floresta.
Continua...
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