Lokan contra O Kraken

 


O sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu de laranja e dourado enquanto o pequeno barco de madeira avançava pelas águas calmas do oceano. A embarcação balançava suavemente com o movimento das ondas, enquanto seus três tripulantes observavam o vasto mar à sua frente. Elden, um guerreiro elfo de longos cabelos prateados e olhos atentos, estava na proa, com as mãos firmes no leme, guiando o barco com uma habilidade que só os anos de treinamento poderiam oferecer. Ao seu lado, a clériga Elza, com seu manto sagrado, observava o horizonte com um olhar sereno, mas vigilante. Lokan, o meio elfo e meio orc, estava sentado na popa, afiando sua espada de lâmina larga e resmungando baixinho.

— Finalmente estamos longe da terra firme — comentou Lokan, sua voz grave cortando o silêncio. — Estava cansado da mesma paisagem de árvores e montanhas. Este mar parece... vasto.

Elza sorriu levemente.

— Sim, mas o oceano também pode ser traiçoeiro, Lokan. Não devemos subestimá-lo. Os deuses do mar são poderosos e imprevisíveis.

Elden, que até então estava focado em manter o rumo, assentiu.

— Elza tem razão. Nunca estivemos tão longe da costa antes. Devemos estar preparados para o que vier, seja tempestade ou criatura.

Lokan soltou uma gargalhada.

— Criaturas? Você está falando daqueles monstros marinhos que os velhos pescadores contam? Balelas! Eu daria uma boa risada se alguma dessas lendas aparecesse agora. — Ele bateu na lâmina da espada, confiante.

O barco avançava, e o silêncio voltou a dominar o ambiente. O som das ondas quebrando contra o casco era o único som constante, enquanto o sol desaparecia lentamente, dando lugar à escuridão do crepúsculo. As estrelas começavam a brilhar no céu, e uma lua crescente refletia-se nas águas calmas.

Por um momento, tudo parecia tranquilo demais.

Então, um tremor sutil percorreu o barco.

— Sentiram isso? — Elden perguntou, franzindo o cenho. Ele olhou para a água ao redor, seus instintos alertas.

— Provavelmente só uma onda maior — respondeu Lokan, indiferente. — Ou um peixe grande.

Mas Elza, que estava de olhos fechados em oração silenciosa, abriu-os rapidamente, uma expressão de alerta em seu rosto.

— Não... não é uma simples onda. Algo está... vindo.

De repente, o barco foi sacudido violentamente para o lado, quase jogando Lokan para fora do convés. Elden agarrou o leme com força, tentando manter o controle da embarcação, mas outra sacudida, ainda mais forte, fez com que todos se segurassem para não serem arremessados.

— O que está acontecendo? — gritou Lokan, finalmente em pé, olhando para a água.

As águas ao redor do barco começaram a borbulhar de maneira inquietante. Bolhas gigantescas subiam à superfície, e o mar, antes calmo, começou a se agitar como se algo imenso estivesse se mexendo nas profundezas. A luz da lua cintilava nas ondas, revelando sombras gigantescas logo abaixo da superfície.

Então, como se emergisse de um pesadelo, uma massa colossal de tentáculos começou a se levantar das profundezas, cada um tão grosso quanto o tronco de uma árvore, balançando no ar com uma força aterrorizante. No centro daquela monstruosidade, dois enormes olhos brilhantes se abriram, fixando-se no pequeno barco com um brilho predatório.

— Pelos deuses... é um kraken! — exclamou Elza, sua voz cheia de temor. — A criatura lendária das profundezas!

— Isso não pode ser verdade... — murmurou Elden, enquanto sua mente rapidamente avaliava a situação. — Armas em punho! Lokan, precisamos cortar esses tentáculos antes que destruam o barco!

Lokan, com um sorriso selvagem no rosto, brandiu sua espada com ambas as mãos.

— É disso que eu estou falando! Finalmente, uma luta digna!

Sem perder tempo, ele correu até a borda do barco e desferiu um golpe poderoso em um dos tentáculos que se aproximava. A lâmina cortou a carne do monstro, mas o tentáculo era incrivelmente resistente. Mesmo ferido, ele continuou a balançar, tentando agarrar o barco e arrastá-lo para baixo.

Elden, vendo a futilidade de atacar diretamente, tirou sua espada encantada e gritou para Elza:

— Precisamos de magia! Use suas bênçãos para fortalecer nossas armas!

Elza, concentrada, ergueu seu cajado brilhante e começou a entoar um cântico antigo. Sua voz, suave e carregada de poder divino, ressoou no ar, e uma luz sagrada envolveu Elden e Lokan, fortalecendo suas lâminas com o poder dos deuses. Agora, suas armas brilhavam com uma luz intensa, capazes de ferir até mesmo uma criatura das profundezas.

Elden desferiu um golpe preciso em outro tentáculo que se aproximava. Dessa vez, a lâmina encantada cortou profundamente a carne da criatura, fazendo-a recuar com um rugido gutural que ecoou por todo o oceano.

O kraken, enfurecido, mergulhou dois de seus tentáculos no mar e, com uma força inimaginável, começou a criar um vórtice ao redor do barco. As águas, antes calmas, agora giravam violentamente, e o barco foi puxado para o centro de uma correnteza mortal.

— Estamos sendo sugados! — gritou Elza, segurando-se no mastro enquanto a embarcação inclinava-se perigosamente.

Elden, lutando para manter o equilíbrio, percebeu que, se não destruíssem o kraken rapidamente, o barco seria tragado pelo redemoinho.

— Lokan, vamos cortar os tentáculos principais! Precisamos acabar com isso agora!

Lokan, rindo selvagemente em meio ao caos, assentiu.

— É o que eu planejava fazer!

Os dois correram para os lados opostos do barco, atacando com todas as suas forças. Lokan, com sua espada pesada, conseguiu perfurar profundamente um dos tentáculos, e Elden, com sua lâmina mágica, desferiu golpes precisos, cortando a carne da besta.

O kraken, sentindo a dor dos ataques combinados, soltou um rugido que sacudiu o próprio ar, e os tentáculos começaram a recuar. Mas antes que a criatura se retirasse completamente, ela envolveu um dos tentáculos ao redor do mastro do barco, apertando com uma força que fez a madeira ranger e estalar.

Elza, vendo o perigo iminente, ergueu seu cajado mais uma vez e canalizou sua magia divina. Com um grito, ela lançou uma explosão de luz diretamente no tentáculo que segurava o mastro. A luz sagrada queimou a carne da criatura, forçando-a a soltar o barco, mas a estrutura já estava comprometida.

O mastro, agora frágil e instável, começou a tombar.

— Saiam de perto! — gritou Elden.

Com um estrondo, o mastro desabou no convés, quase esmagando Lokan. Ele conseguiu rolar para fora do caminho a tempo, mas o barco estava seriamente danificado. Elden olhou para as águas e viu que, apesar dos ferimentos, o kraken não desistiria tão facilmente.

Os olhos da criatura ainda brilhavam debaixo da superfície, e mais tentáculos começaram a se levantar, prontos para um novo ataque.

— Não podemos continuar assim — disse Elza, ofegante. — Precisamos de uma estratégia... ou seremos destruídos.

Elden olhou para ela, seus olhos cheios de determinação.

— Eu vou tentar acertar a cabeça da criatura. Se eu conseguir cegá-la, pode ser nossa chance de escapar.

Lokan se levantou, limpando o suor da testa.

— Isso soa como um plano. Vamos fazer essa coisa pagar!

Elden sabia que esse seria o momento decisivo. Com um salto ágil, ele subiu nos destroços do mastro caído, preparando-se para o golpe final.

Enquanto o kraken se preparava para esmagar o barco por completo, Elden, Lokan e Elza estavam prontos para enfrentar a morte de frente. A escuridão do oceano parecia mais ameaçadora do que nunca, mas no coração dos três, a chama da coragem ainda ardia.

Elden estava prestes a saltar dos destroços do mastro caído quando o kraken emergiu completamente das profundezas. Seu corpo massivo, com centenas de ventosas pulsantes, fazia a água ao redor do barco agitar-se violentamente. O céu acima parecia se fechar, o vento soprava com mais força, e as ondas aumentavam de intensidade. Os olhos imensos da criatura fitavam os três aventureiros com uma fúria primordial. Lokan, com sua espada pesada em mãos, olhou para Elden e assentiu, sabendo que aquele seria o momento decisivo.

— Vou distrair essa coisa! — gritou Lokan, correndo em direção ao tentáculo mais próximo. Com um salto poderoso, ele atingiu o tentáculo com toda a sua força, arrancando um grito gutural da criatura. O tentáculo recuou, mas logo outros dois apareceram, balançando ameaçadoramente acima dele.

Enquanto Lokan batalhava contra os tentáculos, Elza ergueu seu cajado e começou a canalizar mais uma vez a energia divina. Ela sabia que não tinha muito tempo, e suas forças estavam começando a se esgotar, mas sua determinação era inabalável.

— Pelos deuses da luz, protejam-nos e deem-nos força! — ela sussurrou, e de seu cajado irradiou-se uma luz dourada que envolveu o barco, os protegendo temporariamente dos ataques mais violentos do kraken.

Elden, vendo que aquela era a oportunidade que precisava, tomou um impulso e saltou do mastro em direção à cabeça do kraken. Com sua espada encantada nas mãos, ele mirou diretamente nos olhos da criatura. A lâmina brilhou com um azul intenso, carregada com a magia que Elza havia lhe concedido. Elden desferiu um golpe certeiro, atravessando um dos grandes olhos do monstro. A dor que o kraken sentiu foi tamanha que seu corpo inteiro se sacudiu, as águas ao redor borbulhavam, e os tentáculos se agitaram ainda mais violentamente.

O rugido do kraken reverberou pelo ar, e as ondas atingiram o barco com tamanha força que o convés começou a ceder em alguns pontos. Lokan foi jogado para o lado, e Elden, ainda pendurado no kraken, sentiu sua mão escorregar da espada cravada no olho da criatura.

— Elza! Mais uma vez! — gritou Elden, tentando manter o equilíbrio enquanto se agarrava à carne da criatura.

Elza, já sentindo o peso do esforço mágico, reuniu suas últimas energias. Com uma respiração profunda, ela ergueu o cajado e entoou um cântico ainda mais poderoso, invocando os poderes sagrados de cura e destruição ao mesmo tempo. Um feixe de luz intensa disparou do céu, como se os próprios deuses tivessem respondido ao chamado da clériga. A luz atingiu o kraken diretamente no outro olho, cegando-o completamente.

O monstro, em agonia e desorientado, começou a balançar de forma errática, seus tentáculos chicoteando o ar e a água ao seu redor. O barco foi sacudido com tamanha força que Lokan, tentando se levantar, foi lançado novamente ao convés.

— Está cego! Agora é nossa chance! — gritou Elden, enquanto descia rapidamente pela lateral da criatura, sua espada ainda brilhando intensamente. Ele sabia que o kraken, mesmo cego, ainda era uma ameaça mortal, e precisariam dar o golpe final antes que a criatura destruísse o barco por completo.

Lokan, finalmente de pé, olhou para Elden com um sorriso selvagem. — Vamos acabar com isso, então!

Com uma determinação feroz, os dois correram para os lados opostos do barco, atacando simultaneamente dois dos tentáculos principais que estavam prestes a esmagar a embarcação. Lokan, com sua força bruta, perfurou profundamente a carne do kraken, e Elden, com sua espada mágica, desferiu um golpe preciso no coração do monstro, agora vulnerável após ser cegado.

O kraken soltou um último rugido que parecia abalar até o próprio mar. Seu corpo gigante começou a se contorcer, seus tentáculos lentamente recuando para as profundezas. As águas, que antes estavam agitadas, começaram a se acalmar gradualmente. Com um estrondo final, a criatura afundou, desaparecendo no abismo do oceano, deixando para trás apenas o silêncio e as ondas suaves que balançavam o barco destroçado.

Elden, Lokan e Elza estavam exaustos. O barco estava severamente danificado, com o mastro destruído e várias tábuas rachadas, mas eles ainda estavam flutuando.

— Conseguimos… — disse Elden, ofegante, enquanto olhava para o local onde o kraken desaparecera.

Lokan, deitado no convés, riu.

— Não é todo dia que se mata um kraken. Eu disse que queria uma boa luta.

Elza, caindo de joelhos, fechou os olhos em uma prece silenciosa de agradecimento. Ela havia esgotado quase toda sua energia mágica, mas seu coração estava aliviado por terem sobrevivido.

— Não vamos sobreviver muito tempo se o barco continuar assim — disse Elden, analisando os danos. — Precisamos achar uma maneira de consertá-lo antes que outra tempestade nos pegue.

Lokan, ainda deitado, suspirou.

— Eu conserto o barco… mas primeiro, preciso de um descanso.

O silêncio tomou conta do grupo enquanto o oceano os envolvia novamente, agora mais calmo, como se tivesse aceitado sua vitória sobre a besta marinha. O barco balançava levemente, e a noite caía com tranquilidade, trazendo consigo um alívio temporário. O céu, agora limpo, exibia estrelas brilhantes, enquanto a lua iluminava o mar com sua luz suave.

Mas, apesar da calmaria, todos sabiam que o perigo ainda não havia passado. Eles estavam à deriva, em um barco quase destruído, no meio de um vasto oceano. E o que mais poderia estar escondido nas profundezas abaixo deles?

Elden, sempre vigilante, se levantou.

— Devemos nos preparar para o que vier. Não sabemos se o kraken estava sozinho ou se há mais criaturas dessas por aí.

Lokan riu novamente, mesmo cansado.

— Que venham. Já derrotamos um kraken. Nada pode ser pior do que isso.

Elza, porém, olhou para o horizonte com preocupação. Seus instintos como clériga lhe diziam que aquela batalha não havia terminado completamente. O oceano guardava muitos segredos, e os deuses do mar, outrora silenciosos, agora pareciam estar observando.

— Precisamos seguir em frente, encontrar uma ilha para repararmos o barco e nos recuperarmos — disse ela finalmente, sua voz firme, mas cheia de sabedoria.

Elden e Lokan assentiram. A batalha com o kraken havia sido apenas o começo. O mar ainda guardava muitos perigos, e eles precisariam estar preparados para enfrentá-los, seja lá o que fosse que o futuro lhes reservava.

O barco, mesmo avariado, continuou seu caminho pelas águas calmas, deixando para trás os destroços da batalha, enquanto a noite se aprofundava.

 

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