O Guardião do Fogo

 


No coração de uma cidade antiga e grandiosa, cercada por montanhas que pareciam tocar o céu, vivia um semideus chamado Eryon. Filho de uma deusa do fogo e de um mortal, ele era conhecido por sua força inigualável, mas também por sua humildade. Eryon vivia entre os humanos, não como governante, mas como protetor silencioso. Seu sangue divino corria quente em suas veias, e a chama da eternidade ardia em seu coração.

A cidade, chamada Pyrnath, era famosa por seus altos templos de mármore, suas muralhas intransponíveis e sua população que acreditava ser imbatível. Por séculos, Pyrnath prosperou sob a proteção de Eryon, que mantinha as forças do mal à distância, muitas vezes sem que seus habitantes soubessem. Ele mantinha uma espada lendária em seu poder: Ignis, a Lâmina de Fogo, uma arma forjada nas chamas de um vulcão divino, com o poder de incinerar qualquer criatura das trevas.

No entanto, uma ameaça inesperada e sem precedentes se aproximava. Durante muitos anos, rumores circulavam sobre monstros esquecidos, selados por deuses antigos, que estavam acordando de seu sono milenar. Essas criaturas, seres imensos e grotescos, vinham de além dos limites do mundo conhecido, guiados por um ódio ancestral contra os humanos e seus deuses.

Era o crepúsculo quando os céus começaram a escurecer de maneira anômala. Um vento frio e cortante percorreu as ruas de Pyrnath, trazendo consigo uma sensação de desespero. As nuvens tornaram-se negras como carvão, bloqueando os últimos raios de sol, e um silêncio estranho envolveu a cidade. Então, de repente, o chão tremeu. Os habitantes de Pyrnath saíram de suas casas e olharam para as montanhas. Um rugido distante ecoou, e com ele, uma horda de monstros começou a descer pelos picos, como uma onda de destruição que não podia ser parada.

Essas criaturas eram enormes, com formas variando entre o grotesco e o diabólico. Alguns tinham a forma de bestas gigantescas com presas afiadas como espadas, enquanto outros pareciam humanoides, mas com braços múltiplos e olhos brilhando com fogo infernal. Atrás de todos eles, uma silhueta ainda mais aterrorizante se ergueu — um monstro titânico com a pele coberta de escamas negras e asas enormes que bloqueavam o céu. Seu nome era Talbrak, o Devastador de Reinos, um ser lendário cujo único propósito era a aniquilação total.

As muralhas de Pyrnath, antes vistas como intransponíveis, começaram a tremer e rachar sob a aproximação dos monstros. Os guardas correram em desespero, tentando preparar a defesa, mas sabiam que sua força era insignificante diante de tal exército.

Eryon, que até então estava meditando no templo mais alto da cidade, sentiu o perigo antes mesmo de ouvir os primeiros gritos. Seus olhos se abriram, brilhando com a chama de sua herança divina, e ele soube que a hora havia chegado. Ele correu até uma câmara secreta no fundo do templo, onde a espada Ignis estava guardada, envolta em runas protetoras. Ao segurar o cabo da espada, Eryon sentiu a energia antiga e o calor da lâmina se fundirem com o seu próprio poder. Ignis brilhou intensamente, como se reconhecesse que o tempo de batalhas gloriosas havia retornado.

Quando Eryon emergiu do templo, a cidade já estava em pânico. Os monstros avançavam, e as primeiras casas nos arredores das muralhas foram destruídas. Com um salto prodigioso, Eryon chegou até os portões da cidade, onde a horda de monstros se aproximava como uma maré de destruição. Seus olhos se fixaram em Talbrak, que liderava o ataque, e ele soube que derrotar aquele monstro seria a chave para salvar Pyrnath.

— Não passarão! — gritou Eryon, sua voz ecoando como um trovão divino.

Com um movimento ágil, ele brandiu Ignis, e uma onda de fogo intenso varreu o ar, atingindo os monstros menores que avançavam na linha de frente. O calor era tão forte que os primeiros monstros se contorceram e foram reduzidos a cinzas. A espada brilhava intensamente, refletindo a fúria do semi-deus, que avançava com destreza e velocidade incomparáveis. Cada golpe cortava não apenas carne, mas também a própria essência das criaturas, queimando suas almas sombrias.

Um gigante de quatro braços, com pele coberta de espinhos, rugiu ao avançar contra Eryon. Ele balançou suas armas improvisadas, tentando esmagá-lo, mas Eryon esquivou com a elegância de um deus, girando Ignis em um arco perfeito que cortou dois dos braços da criatura. O monstro soltou um uivo agonizante antes que a lâmina de fogo atravessasse seu crânio, queimando-o de dentro para fora.

Ao longe, outros monstros escalaram as muralhas, começando a destruir torres e a devorar os guardas que defendiam a cidade. Eryon sabia que ele não podia lutar sozinho para sempre. Ele precisava de uma estratégia, algo que pudesse conter as forças inimigas enquanto lidava com Talbrak. Sua mente divina calculava rapidamente, e então ele percebeu: as muralhas de Pyrnath eram construídas sobre antigas fontes de energia mágica, usadas pelos primeiros deuses para proteger a cidade. Se ele conseguisse canalizar essa energia, talvez pudesse selar os monstros ou criar uma barreira temporária.

Mas isso exigiria tempo, e tempo era o que ele não tinha.

Com um salto sobre-humano, Eryon aterrissou no topo de uma das torres, onde podia ver a horda de monstros se espalhando como uma doença pela cidade. Seus olhos se voltaram para Talbrak, que estava cada vez mais perto. O Devastador de Reinos rugia com uma força sobrenatural, suas garras negras dilacerando o solo, e suas asas se abrindo, lançando sombras por toda a cidade.

Eryon apontou Ignis para o céu. Uma corrente de fogo subiu da espada, iluminando as nuvens escuras. Com um rugido poderoso, ele lançou a energia flamejante diretamente na direção de Talbrak. O fogo divino atingiu o monstro em cheio, mas, para o espanto de Eryon, Talbrak resistiu. As escamas negras do monstro brilharam com uma luz maligna enquanto absorviam parte da energia.

Talbrak rugiu em desafio, sua voz reverberando como uma tempestade.

— Eryon, filho dos deuses menores! Você não tem o poder de me derrotar! — zombou o monstro, sua boca escancarada revelando fileiras de dentes afiados como espadas.

Mas Eryon não recuaria. Ele sabia que sua força vinha não apenas de seu sangue divino, mas de seu compromisso com os mortais que ele protegia. Ele olhou para os cidadãos de Pyrnath, que estavam lutando desesperadamente, tentando sobreviver àquela noite de terror. A chama de Ignis refletia em seus olhos, e ele jurou que não deixaria que sua cidade fosse destruída.

Descendo da torre com a velocidade de um raio, Eryon correu em direção a Talbrak, ignorando os monstros menores que tentavam interceptá-lo. Ele precisava enfrentar o líder, precisava acabar com aquele terror antes que fosse tarde demais.

Talbrak se preparou para o confronto, suas asas se esticando, preparando-se para esmagar o semi-deus com um golpe devastador. Mas Eryon não hesitou. Ao chegar perto o suficiente, ele saltou, elevando-se no ar, e com um grito feroz, desferiu um golpe com Ignis, direcionando toda a sua força e poder divino contra o monstro.

Eryon desferiu o golpe com Ignis, e a lâmina incandescente cortou o ar como uma estrela cadente, atingindo Talbrak diretamente no peito. O impacto foi ensurdecedor, o fogo divino explodindo ao redor da criatura como uma tempestade de chamas. Talbrak rugiu de dor e raiva, suas escamas negras brilhando intensamente enquanto resistiam à força da espada flamejante, mas até mesmo sua pele indestrutível não pôde se proteger completamente do poder de Ignis.

O monstro cambaleou para trás, chamas ainda crepitando em seus ferimentos, mas não foi derrubado. Talbrak bateu suas asas enormes, criando uma onda de vento que varreu as ruas de Pyrnath, lançando destroços e soldados pelos ares. Eryon, no entanto, manteve sua postura, fincando Ignis no chão para se segurar contra a força do vento. Ele sabia que não poderia subestimar Talbrak. Aquele ser era antigo, nascido do próprio caos, e sua força parecia crescer com o passar do tempo.

Com um rugido de fúria, Talbrak lançou suas garras monstruosas contra Eryon, e o semideus teve que se esquivar rapidamente. Mesmo com sua agilidade sobre-humana, uma das garras rasgou sua armadura, deixando um corte profundo em seu braço. Eryon cerrou os dentes, ignorando a dor. Ele sabia que não podia recuar, pois toda a cidade dependia dele.

— Você é forte, Eryon — disse Talbrak com uma voz rouca e gutural, enquanto suas asas se fechavam ao redor de seu corpo, como um escudo protetor. — Mas sua força não é suficiente. Esta cidade cairá, assim como todas as outras antes dela.

— Isso é o que veremos — respondeu Eryon, erguendo Ignis novamente, o calor da espada queimando o ar ao seu redor.

A batalha continuava implacável. Eryon se movia com a rapidez de um relâmpago, desferindo golpes em pontos estratégicos do corpo de Talbrak, tentando encontrar uma fraqueza nas escamas negras e impenetráveis. A cada golpe, Ignis liberava ondas de calor intenso, queimando o monstro, mas Talbrak parecia resistir a cada ataque, como se absorvesse parte da energia da espada.

Os outros monstros, encorajados pela resistência de seu líder, continuavam a devastar a cidade. Pyrnath estava em ruínas. As muralhas desmoronavam, e os cidadãos corriam em desespero. Eryon, ao perceber a situação, sabia que precisava de mais do que apenas sua força física. Ele precisava recorrer à antiga magia da cidade, às energias que estavam seladas nas profundezas de Pyrnath.

Com um salto, ele se distanciou de Talbrak, aterrissando no centro da praça principal da cidade. Ali, embaixo do solo, estavam os selos mágicos que protegiam Pyrnath há séculos, uma fonte de energia mística que os deuses haviam deixado para defender a cidade em tempos de crise. Eryon ergueu a espada Ignis e, com uma oração silenciosa aos antigos deuses, golpeou o chão com toda a sua força.

O solo tremeu violentamente, e rachaduras luminosas começaram a se formar ao redor de onde a lâmina havia tocado. De dentro das rachaduras, uma luz dourada emergiu, crescendo rapidamente, até que uma explosão de energia varreu a praça. O poder antigo foi libertado, e Eryon o sentiu fluir por seu corpo, como uma corrente de fogo líquido que o conectava diretamente aos deuses. Seu corpo brilhou com uma aura dourada, e Ignis, em suas mãos, ardeu com mais intensidade do que nunca.

Talbrak, vendo o poder que Eryon agora possuía, hesitou por um breve momento. Mas, movido pelo ódio, o monstro avançou novamente, sua boca escancarada, pronto para devorar o semi-deus. Eryon, no entanto, estava preparado. Ele ergueu Ignis, e com um grito de guerra que ecoou por toda Pyrnath, desferiu um golpe final.

A espada cortou o ar com um brilho cegante e atingiu Talbrak bem no centro do peito. Desta vez, o impacto foi devastador. O fogo divino e a energia mística dos antigos deuses se combinaram, e o corpo de Talbrak começou a rachar, como se sua forma não pudesse mais conter o poder imenso que o atingia. Um rugido ensurdecedor ecoou pelos céus, enquanto as escamas negras de Talbrak se desfaziam, e seu corpo colossal se despedaçava em chamas.

Com um último grito de fúria, Talbrak explodiu em uma chuva de fogo e destroços, e suas cinzas foram levadas pelo vento. O líder dos monstros estava morto.

A cidade de Pyrnath estava em ruínas. As muralhas caídas, as casas destruídas, e o fogo ainda queimava em algumas partes da cidade. Mas o pior havia passado. Os monstros, sem seu líder, começaram a recuar, fugindo de volta para as montanhas de onde haviam vindo. Alguns foram destruídos pelos guardas que ainda estavam vivos, mas muitos conseguiram escapar, levando consigo a memória da derrota de Talbrak.

Eryon, com o corpo exausto e ferido, caiu de joelhos no centro da praça. Ignis, agora apagada, ainda estava firme em sua mão. A energia dos deuses o havia deixado, e ele sentia o peso de suas ações. Mas ele sabia que havia vencido. Pyrnath estava salva, pelo menos por enquanto.

Os poucos cidadãos que ainda restavam começaram a sair de seus esconderijos. Eles olhavam para Eryon com uma mistura de reverência e medo. Alguns se ajoelharam, agradecendo silenciosamente ao semi-deus por sua proteção, enquanto outros corriam para tentar ajudar os feridos e reconstruir o que restava da cidade.

Entre os que se aproximaram de Eryon estava Lyra, uma jovem curandeira que havia ajudado o semi-deus em outras batalhas menores. Seus olhos estavam cheios de preocupação enquanto ela se ajoelhava ao lado dele, tocando levemente o ferimento em seu braço.

— Você fez o impossível, Eryon, mas precisa descansar. Está ferido — disse ela, a voz suave, mas firme.

Eryon olhou para ela, seu rosto cansado, mas seus olhos ainda brilhando com determinação.

— Não há tempo para descanso, Lyra. Talbrak pode estar morto, mas o mal que o trouxe até aqui ainda está à espreita. Esses monstros não vieram sozinhos. Algo ou alguém os enviou, e preciso descobrir quem — disse ele, levantando-se com dificuldade.

Lyra o ajudou a ficar de pé, embora claramente preocupada com o estado dele.

— E se não houver mais monstros? E se Pyrnath estiver segura agora? — perguntou ela, sua voz quase implorando.

Eryon olhou para o horizonte, onde as montanhas ainda estavam cobertas por sombras.

— Eu queria que isso fosse verdade, mas sinto que essa batalha foi apenas o começo. Algo muito maior está em jogo, e temo que Pyrnath não seja a única cidade em perigo.

Ele deu alguns passos à frente, observando as ruínas ao seu redor. O vento ainda soprava, carregando consigo o cheiro de fumaça e cinzas. A cidade que ele jurou proteger estava devastada, mas ele sabia que a verdadeira guerra estava apenas começando.

 

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