Lokan contra O Pantera Deslocadora

 


Na vila sem nome, havia um mistério que pairava sobre as casas de pedra e as árvores que cercavam a floresta densa. Os moradores viviam dias sombrios, pois algo perigoso espreitava nas sombras da noite, atacando os incautos que ousavam andar sozinhos ou se aventurar para além das muralhas que protegiam o vilarejo. As lendas falavam de uma criatura feroz, mas ninguém havia vivido para contar sua verdadeira forma. Foi nesse cenário que três corajosos guerreiros se levantaram para enfrentar a ameaça.

Elden, o guerreiro elfo, era uma figura imponente, sua armadura de placas prateadas brilhava mesmo sob a luz difusa do céu encoberto. Com uma espada longa que carregava nas costas e um escudo pesado decorado com runas antigas, Elden era a primeira linha de defesa. Ao seu lado, Elza, a clériga, usava vestes brancas com bordados dourados, segurando firmemente um cajado de madeira entalhada. Seus feitiços curativos e habilidades mágicas eram vitais para manter o grupo de pé em qualquer batalha. Por último, mas não menos importante, havia Lokan, o meio elfo e meio orc. Ele era uma força bruta da natureza, carregando um machado de lâmina dupla e uma expressão sempre carregada de determinação feroz. Juntos, os três formavam um time imbatível.

Uma noite, depois de mais um ataque onde apenas rastros de sangue e marcas de garras foram encontrados, os três decidiram que era hora de agir. Eles seguiram os rastros até a floresta densa ao norte da vila, onde a vegetação era tão fechada que a luz da lua mal penetrava pelas copas das árvores.

— Essas marcas são estranhas — disse Elden, abaixando-se para analisar o solo. — Pistas grandes, mas não parecem pertencer a nenhuma criatura que eu conheça.

— São mais do que estranhas — murmurou Elza, seus olhos brilhando com uma luz mística enquanto ela fazia um gesto com a mão, tentando sentir qualquer magia ao redor. — Há algo de maligno aqui, algo que não pertence a este lugar.

Lokan balançou a cabeça, com seu olhar atento voltado para a floresta ao redor.

— Vamos encontrar essa coisa e acabar com ela. Não podemos permitir que continue aterrorizando nosso povo.

Com um sinal de Elden, o grupo avançou. A floresta parecia crescer ao redor deles, cada som amplificado pela tensão no ar. O farfalhar das folhas, o som de galhos quebrando, tudo parecia muito próximo. Mas então, um silêncio mortal se instalou.

Foi Lokan quem viu primeiro.

— Cuidado! — ele gritou, erguendo seu machado.

Das sombras, algo surgiu. A princípio, parecia uma forma vaga, quase como se fosse uma ilusão. Mas quando a criatura se aproximou, eles puderam ver claramente o que estavam enfrentando: uma pantera deslocadora.

O monstro era imenso, maior do que qualquer felino que eles já haviam visto, com uma pelagem azul-escura brilhante como o céu noturno. Ela tinha seis patas musculosas que se moviam com uma graça assustadora, e dois tentáculos brotavam de seus ombros, terminando em garras pontiagudas que faiscavam à luz da lua. Seus olhos amarelos brilhavam com uma inteligência maligna, e, antes que qualquer um pudesse reagir, ela se deslocou novamente, como se desaparecesse de um lugar e surgisse em outro, enganando seus sentidos.

— Fiquem juntos! — gritou Elden, levantando o escudo. — Ela se camufla e se move rápido. Não vamos deixá-la nos dividir!

O primeiro ataque da pantera foi rápido como um raio. Um dos tentáculos estendeu-se em direção a Elza, mas antes que pudesse alcançá-la, Elden se interpôs, bloqueando o golpe com seu escudo. O impacto foi tão forte que o empurrou alguns metros para trás, mas ele permaneceu firme.

— Essa coisa é forte — disse Elden entre dentes, tentando recuperar o equilíbrio.

Lokan não perdeu tempo. Com um rugido, ele avançou em direção à criatura, girando seu machado em um arco amplo. A lâmina cortou o ar onde a pantera deveria estar, mas, em um piscar de olhos, ela desapareceu e surgiu alguns metros à esquerda, desviando-se do golpe com uma agilidade sobrenatural.

— Maldição! — rosnou Lokan, frustrado. — Ela está nos enganando!

Elza se concentrou, seus olhos brilhando enquanto murmurava palavras de poder. Ela ergueu o cajado e um círculo mágico dourado apareceu no chão sob seus pés. A energia se expandiu, formando uma barreira protetora ao redor do grupo.

— Isso deve nos dar algum tempo — disse ela. — Mas não vai durar para sempre.

A pantera deslocadora rosnou, seus tentáculos chicoteando o ar enquanto ela circulava o trio, procurando uma brecha na barreira mágica. Seus movimentos eram erráticos, tornando difícil prever onde ela apareceria em seguida.

Elden respirou fundo, tentando calcular o próximo movimento da criatura. Ele sabia que atacar cegamente seria inútil. Precisava de uma estratégia.

— Lokan, tente empurrá-la para um ponto específico — disse Elden, seus olhos fixos na criatura. — Elza, quando eu der o sinal, solte uma explosão de luz. Isso deve desorientá-la, e então atacaremos.

Lokan assentiu e avançou novamente. Ele balançava seu machado com fúria, forçando a pantera a recuar, mas ela continuava a se deslocar, desaparecendo e surgindo em outros lugares, tornando impossível prever seus movimentos. No entanto, a estratégia de Elden estava funcionando. A criatura estava sendo forçada a se mover em uma direção específica.

— Agora, Elza! — gritou Elden.

Elza ergueu o cajado, e uma luz intensa explodiu do círculo mágico, iluminando a área ao redor deles como se fosse dia. A pantera soltou um rugido de dor e confusão, seus olhos ofuscados pela luz repentina. Por um breve momento, sua camuflagem falhou, e sua verdadeira posição foi revelada.

— Agora! — gritou Elden.

Ele avançou, sua espada brilhando à luz mágica, cortando em direção à criatura. Sua lâmina encontrou resistência quando perfurou a carne da pantera, arrancando um rugido ensurdecedor dela. Lokan estava logo atrás, seu machado descendo com força brutal sobre o flanco da criatura, cortando profundamente.

Mas a pantera deslocadora não era tão facilmente derrotada. Mesmo ferida, ela se moveu com uma velocidade assombrosa, recuando antes que eles pudessem desferir outro golpe mortal. Sangue azul escorria de suas feridas, mas ela continuava a lutar, seus olhos brilhando com ódio e dor. A batalha estava longe de terminar.

A pantera desapareceu novamente, mas dessa vez suas movimentações eram mais erráticas, sua camuflagem falhando à medida que o sangue a enfraquecia. Elden sabia que não poderiam baixar a guarda, mesmo com a criatura ferida.

— Ela está vulnerável — disse Elza, concentrando-se para lançar outro feitiço. — Mas ainda é perigosa. Lokan, ataque por trás quando ela reaparecer!

Lokan rosnou em concordância, girando o machado com impaciência enquanto aguardava a próxima aparição da pantera. Elden manteve seu escudo erguido, pronto para bloquear outro ataque surpresa.

A pantera deslocadora surgiu novamente, seus tentáculos chicoteando o ar em fúria. Elden se lançou para frente, bloqueando o ataque, enquanto Lokan se movia furtivamente por trás da criatura, suas pernas pesadas quase não fazendo som sobre o chão da floresta.

No momento exato em que a pantera se voltou para atacar Elden, Lokan desferiu um golpe certeiro, seu machado cravando-se nas costas da criatura. Ela rugiu de dor, cambaleando para frente, e Elden aproveitou a oportunidade para perfurar seu flanco com sua espada. A batalha estava se tornando desesperada, mas a vitória ainda não era certa.

Elza, vendo a criatura à beira da derrota, canalizou sua magia uma última vez. Ela ergueu o cajado e, com um grito determinado, lançou uma rajada de energia divina diretamente contra a pantera deslocadora, acertando-a no peito. A criatura uivou em agonia, seu corpo tremendo enquanto a luz mágica a consumia. Mesmo assim, a pantera se recusava a cair.

A pantera deslocadora, mesmo gravemente ferida, ainda lutava com uma fúria indomável. Seus tentáculos chicoteavam o ar, tentando desesperadamente repelir os ataques de Elden e Lokan, enquanto sua forma cintilava, ameaçando se deslocar novamente. Mas algo estava diferente: seus movimentos eram mais lentos, menos precisos. A luz de Elza e os golpes combinados dos guerreiros haviam afetado a criatura, enfraquecendo seu poder de camuflagem.

Elden, ainda segurando o escudo com força, observava atentamente a pantera. Ele sabia que estavam perto de derrotá-la, mas não podiam se dar ao luxo de subestimá-la no momento final.

— Ela está perdendo força, mas ainda pode nos surpreender. Fiquem atentos — disse ele, girando a espada em sua mão, pronto para o próximo ataque.

A pantera deslocadora rosnou, recuando lentamente, o sangue azul gotejando de suas feridas profundas. Seus olhos brilhavam de dor e desespero, mas também de uma astúcia perigosa. O monstro sabia que estava acuado, e criaturas desesperadas eram sempre as mais perigosas.

Lokan deu um passo à frente, seus olhos de orc faiscando com fúria e determinação. Ele ergueu seu machado, pronto para desferir outro golpe.

— Vamos acabar logo com isso! — rugiu ele, avançando para atacar.

No entanto, no exato momento em que Lokan estava prestes a golpear, a pantera deslocadora fez sua jogada final. Em uma última tentativa de escapar, ela se deslocou novamente, movendo-se rapidamente para a lateral, na direção de Elza, que estava mais afastada, concentrada em manter a magia de cura ativa.

— Elza, cuidado! — gritou Elden, lançando-se para proteger a clériga.

A criatura disparou em direção a Elza, seus tentáculos se estendendo para agarrá-la, mas antes que a pantera pudesse alcançar seu objetivo, Elden interpôs seu escudo entre a clériga e o monstro. O impacto foi brutal, o escudo de Elden tremendo com a força do ataque, mas ele conseguiu bloquear o golpe. Ao mesmo tempo, Lokan aproveitou a distração e desferiu um golpe poderoso nas costas da pantera.

O machado de Lokan afundou profundamente na carne da criatura, arrancando um grito gutural dela. A pantera cambaleou para trás, seus tentáculos chicoteando o ar de maneira descontrolada, enquanto suas patas tremiam de fraqueza.

— Agora, Elden! — gritou Lokan, puxando seu machado de volta.

Elden, vendo a oportunidade, levantou sua espada e desferiu um golpe mortal no flanco exposto da criatura. A lâmina perfurou a carne com facilidade, penetrando fundo. A pantera deslocadora soltou um rugido agonizante que ecoou pela floresta, seus olhos amarelos se apagando enquanto seu corpo imenso caía no chão com um baque surdo.

A criatura estava finalmente derrotada.

Por alguns instantes, os três ficaram em silêncio, ofegantes, observando o corpo imóvel da pantera deslocadora. O brilho azul de sua pelagem começava a desvanecer, assim como sua forma ilusória. Elden se permitiu relaxar, abaixando o escudo e limpando o suor da testa.

— Conseguimos... — murmurou ele, olhando para seus companheiros.

— Foi por pouco — disse Elza, ainda com a respiração acelerada, mas seu rosto expressava alívio. Ela ergueu o cajado mais uma vez, murmurando palavras suaves de cura, e uma luz cálida envolveu Elden e Lokan, restaurando parte de suas forças e curando os ferimentos superficiais.

— Essa coisa era teimosa — disse Lokan, girando o machado em sua mão antes de prendê-lo nas costas. — Mas não foi páreo para nós.

O trio se reuniu ao redor do corpo da pantera deslocadora, agora completamente imóvel. O cheiro metálico de sangue enchia o ar, e o chão ao redor estava marcado pela intensa batalha que haviam travado.

— Não foi fácil, mas acabamos com a criatura — disse Elden, limpando a lâmina da espada com um pedaço de tecido. — Os aldeões podem finalmente descansar em paz.

Elza assentiu, seus olhos ainda observando a criatura caída com um olhar pensativo.

— Precisamos contar aos líderes da vila. Eles vão querer saber o que aconteceu aqui. Talvez possamos evitar mais tragédias, agora que essa ameaça foi eliminada.

Lokan, que já estava se afastando da cena, deu um leve sorriso.

— Vamos pegar a recompensa primeiro. Depois discutimos o que mais pode ser feito.

Enquanto eles se preparavam para voltar para a vila, algo inesperado aconteceu. O corpo da pantera deslocadora, antes inerte, começou a emitir um leve brilho, quase imperceptível no início, mas que rapidamente se intensificou. Elza foi a primeira a notar, seus olhos se arregalando de surpresa.

— Elden, Lokan... algo está errado.

Os dois guerreiros se viraram no mesmo instante, observando o estranho fenômeno. O corpo da pantera começou a se dissolver em uma espécie de névoa azul-escura, como se estivesse se desintegrando, mas, ao invés de desaparecer por completo, a névoa começou a se agitar, formando uma espiral no ar.

— O que diabos está acontecendo? — perguntou Lokan, erguendo seu machado novamente, como se estivesse pronto para enfrentar outra batalha.

Elden estreitou os olhos, segurando sua espada com mais força.

— Não tenho certeza, mas isso não parece normal. Elza, você consegue sentir alguma coisa?

Elza franziu a testa, seus dedos tocando o ar ao redor da névoa, tentando sentir qualquer resquício de magia.

— Isso... isso não é magia comum. É antiga, poderosa, como se estivesse conectada à própria essência da criatura. Algo muito maior está em jogo aqui.

A névoa continuou a se agitar até formar um vórtice no centro da clareira, e, em seu interior, uma figura começou a se materializar. Era uma silhueta indistinta a princípio, mas à medida que o vórtice de névoa se dissipava, a figura se tornou mais clara. Era uma pantera deslocadora, mas muito maior, com uma aura ameaçadora irradiando de seu corpo, seus olhos brilhando com uma luz sobrenatural. Ela flutuava sobre o chão, como se estivesse fora da realidade física.

— Isso não pode ser real... — murmurou Elden, com o coração acelerado. — Nós a matamos!

Lokan olhou para a criatura, os olhos arregalados de surpresa e fúria.

— Isso... isso é algum tipo de maldição!

A criatura flutuante não atacou imediatamente. Ela parecia observar os três, seus olhos fixos neles com uma intensidade fria e calculista. O silêncio na floresta era quase insuportável, como se o próprio ar tivesse parado de se mover.

Então, a criatura começou a se mover lentamente em direção a eles.

— Preparem-se! — gritou Elden, erguendo seu escudo mais uma vez. — Isso está longe de terminar.

Elza, sentindo o peso da magia ao seu redor, começou a murmurar um novo feitiço, suas mãos brilhando com uma luz dourada. Ela sabia que o que quer que fosse aquilo, não era uma simples ilusão. A criatura estava de volta, mas de uma forma ainda mais perigosa.

Lokan rugiu, avançando com seu machado. A lâmina cortou o ar em um arco devastador, mas, quando atingiu a pantera, atravessou-a como se ela fosse feita de pura névoa. A criatura não mostrou sinais de dor ou desconforto; pelo contrário, ela parecia imune aos ataques físicos.

— Não funciona! — gritou Lokan, recuando com frustração. — Ela não pode ser atingida!

Elden também tentou um ataque, mas o resultado foi o mesmo. Sua espada atravessou a criatura sem causar dano algum.

— Isso não é possível... — Elden disse, recuando ao lado de Lokan.

A pantera deslocadora flutuante começou a se aproximar, seus tentáculos estendendo-se em direção ao trio, enquanto Elza, em desespero, terminava seu encantamento. Ela ergueu o cajado e uma explosão de luz dourada emanou de sua posição, criando uma barreira brilhante entre eles e a criatura.

A pantera parou, seus olhos amarelos observando a barreira com uma curiosidade maligna.

— Isso vai nos dar algum tempo, mas não vai durar para sempre — disse Elza, ofegante.

Elden olhou para seus companheiros, tentando pensar rapidamente em uma solução.

— Precisamos de outra abordagem. Magia antiga ou não, há uma fraqueza aqui. Temos que descobrir o que essa coisa realmente é... antes que seja tarde demais.

 

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