Titã: Capítulo: 35
Os salões reais, outrora lugares de festas e celebrações,
estavam agora repletos de uma tensão palpável. Reis, rainhas e líderes de todos
os cantos do planeta haviam se reunido em uma única sala, cada um representando
uma nação que havia sobrevivido à devastação dos dragões. O peso das decisões
que tinham de tomar pairava sobre todos, e o silêncio que precedeu a discussão
era quase tão denso quanto o ar na sala.
Elian, ainda em seu mecha Titã, estava do lado de fora do
grande salão, aguardando as ordens e as decisões que seriam tomadas pelos
governantes do mundo. O Titã, em modo de espera, estava conectado às várias
redes de comunicação e segurança, pronto para qualquer eventualidade. Embora os
dragões não fossem uma ameaça imediata, a cautela era essencial, pois ninguém
sabia o que poderia acontecer a seguir.
Dentro do salão, as vozes finalmente começaram a se elevar.
O rei Aldric, um homem de barba grisalha e porte altivo, foi o primeiro a
falar.
"Nós vencemos a batalha em nosso mundo," disse
ele, com um tom de voz que misturava orgulho e cautela. "Mas a guerra
ainda não acabou. Outros planetas continuam a sofrer nas garras dos dragões.
Como líderes, temos a responsabilidade de considerar como podemos ajudar nossos
aliados interplanetários."
A rainha Seraphina, de um reino do sul, assentiu. Seu
vestido elegante e os adornos dourados não conseguiam esconder a preocupação em
seus olhos.
"Concordo, mas temos de ser realistas. Nossos recursos
estão escassos após a guerra, e nossos povos ainda estão se recuperando. A
pergunta não é apenas se devemos ajudar, mas se podemos ajudar sem comprometer
nossa própria segurança," ponderou ela, sua voz carregada de preocupação.
O debate começou a ganhar força. Alguns líderes argumentavam
que a solidariedade era essencial, que deviam retribuir a ajuda que receberam
quando seu mundo estava em perigo. Outros, porém, acreditavam que o foco
principal deveria ser a reconstrução e a proteção de seu próprio planeta.
"Se enviarmos nossas forças para outros planetas, quem
nos protegerá se os dragões retornarem?" questionou o rei Haldor, cujos
olhos brilhavam com um ceticismo feroz. "Não podemos nos dar ao luxo de
ser imprudentes. Precisamos de um plano claro, e não de um gesto de boa vontade
que pode nos custar caro."
"Entendo seu ponto, Haldor," respondeu o líder
Zoran, de uma nação mais ao leste, conhecido por sua mente estratégica.
"Mas se não agirmos agora, corremos o risco de ficar isolados. Se os
dragões derrotarem nossos aliados, seremos os próximos, e estaremos sozinhos. A
união pode ser nossa maior força."
Do lado de fora, Elian ouviu fragmentos do debate através
dos sistemas de comunicação. Ele entendia os dilemas que cada governante
enfrentava. Por um lado, proteger o que restava de suas próprias nações era
essencial. Por outro, a solidariedade interplanetária poderia significar a
diferença entre a sobrevivência e a extinção. Ele sabia que, se fosse chamado
para lutar novamente, o faria sem hesitar, mas também sabia que a decisão não
era apenas militar, mas também política e moral.
Dentro do salão, a discussão continuava a esquentar. O rei
Aldric, sempre um defensor da unidade, ergueu a mão para silenciar a sala.
"Precisamos de uma estratégia que atenda às nossas
necessidades sem comprometer nossa segurança," disse ele, seu tom de voz
firme, mas conciliador. "Proponho que enviemos um pequeno contingente de
mechas e tropas para avaliar a situação em outros planetas. Se determinarmos
que nossa ajuda pode fazer a diferença sem nos colocar em risco, poderemos
considerar uma intervenção mais ampla."
A sugestão de Aldric começou a ganhar apoio. Seraphina,
inclinando-se para frente, acrescentou:
"E podemos estabelecer uma linha de comunicação
constante com esses mundos. Se em algum momento percebemos que nossa segurança
está comprometida, podemos trazer nossas forças de volta imediatamente."
Os líderes começaram a acenar com a cabeça, considerando a
proposta. Era uma solução de compromisso – uma forma de ajudar sem se expor
totalmente ao perigo. Contudo, nem todos estavam convencidos.
"O problema é que os dragões são imprevisíveis,"
argumentou Haldor. "Enviar uma pequena força pode não ser suficiente, e se
enfrentarmos um revés, será tarde demais para mudar nossa abordagem."
A sala ficou em silêncio novamente, com os líderes
refletindo sobre as palavras de Haldor. O dilema continuava: como ajudar sem se
colocar em risco?
Nesse momento, uma voz que ainda não havia falado quebrou o
silêncio. Era a de Lysandra, uma jovem rainha de um reino distante, que
assumira o trono após a morte de seu pai na última batalha contra os dragões.
"Talvez devêssemos considerar uma abordagem
diferente," começou ela, com uma voz suave, mas carregada de determinação.
"Podemos oferecer nossa experiência e tecnologia, treinar as forças de
outros planetas para que possam se defender melhor. Isso nos permitiria ajudar,
sem comprometer diretamente nossas forças."
O salão ficou em silêncio, enquanto todos ponderavam sobre a
sugestão de Lysandra. Era uma ideia que não havia sido considerada antes.
Oferecer conhecimento e suporte poderia ser uma forma eficaz de ajudar, sem
enviar diretamente suas tropas para o perigo.
"Isso... poderia funcionar," admitiu Zoran, após
alguns momentos de reflexão. "Mas precisaremos de uma maneira eficaz de
transferir nosso conhecimento rapidamente. E como garantimos que nossas
tecnologias não caiam em mãos erradas?"
A questão levantada por Zoran era válida. A tecnologia mecha
era poderosa, e nas mãos erradas, poderia se tornar uma ameaça. Mas, ao mesmo
tempo, era uma das poucas coisas que tinham a oferecer em um momento de
necessidade global.
"Podemos criar protocolos de segurança," sugeriu
Aldric. "Assegurar que nossos treinadores estejam sempre presentes,
monitorando o uso das tecnologias. Além disso, podemos equipar esses outros
mundos com defesas automáticas, algo que não necessite de uma grande presença
militar."
A proposta de Aldric começou a ganhar mais força, e os
líderes começaram a discutir os detalhes. Elian, ouvindo do lado de fora,
sentiu uma mistura de alívio e preocupação. Ele sabia que qualquer ajuda
oferecida viria com riscos, mas a ideia de compartilhar conhecimento, em vez de
apenas tropas, parecia uma solução que poderia satisfazer a todos.
Enquanto o debate continuava, Elian se perguntou o que o
futuro reservava. Sabia que a paz nunca era garantida e que, mesmo sem dragões
atacando naquele momento, o planeta ainda precisava de vigilância constante.
Mas, por ora, a prioridade era clara: reconstruir, proteger e considerar
cuidadosamente qualquer passo para o futuro.
As discussões duraram horas, e no final, parecia que um
consenso estava sendo formado. Os líderes concordaram em enviar uma equipe de
elite de engenheiros e pilotos experientes para treinar as forças dos outros
planetas. Ao mesmo tempo, iriam desenvolver defesas automatizadas que pudessem
ser rapidamente implantadas em caso de ataque, minimizando a necessidade de
intervenção direta.
Quando a reunião finalmente terminou, os líderes se
dispersaram, cada um retornando a seus respectivos reinos para preparar suas
nações para a próxima fase. Elian permaneceu do lado de fora, ao lado do Titã,
esperando as ordens que poderiam chegar a qualquer momento.
Ele sabia que a batalha contra os dragões havia terminado,
mas a luta por um futuro seguro continuava. Enquanto observava os governantes
deixarem o grande salão, Elian refletiu sobre o caminho à frente. A guerra
havia transformado a todos, mas agora, a reconstrução e a preparação para o
futuro eram as novas batalhas que todos precisavam enfrentar.
Subindo de volta ao cockpit do Titã, Elian sentiu um misto
de alívio e determinação. Eles haviam vencido a batalha em seu planeta, mas o
trabalho estava longe de terminar. Enquanto ligava os sistemas do mecha, uma
mensagem do conselho apareceu na tela: "Prepare-se para a próxima missão.
As negociações terminaram, e a fase de reconstrução e treinamento começa
agora."
A decisão havia sido tomada. Depois de longas e exaustivas
discussões, os líderes de todos os reinos chegaram a um acordo. A ajuda aos
outros planetas era necessária, mas não à custa de sua própria segurança. Eles
precisavam de uma frota de mechas grande o suficiente para proteger seu mundo
e, ao mesmo tempo, enviar uma força considerável para os planetas aliados.
Assim, a grande operação de construção de mechas começou.
Elian, em seu mecha, o Titã, foi um dos primeiros a ser
convocado para ajudar a coordenar a produção. Ele sabia que o desafio seria
enorme, mas a vitória sobre os dragões havia unido o planeta de uma maneira
nunca antes vista. Havia uma determinação inabalável em cada pessoa que ele
encontrava, desde os líderes das nações até os mais simples trabalhadores das
fábricas. Todos estavam comprometidos com a missão de proteger a humanidade,
onde quer que ela estivesse.
As fábricas, antes dedicadas a uma variedade de indústrias,
foram rapidamente convertidas em centros de produção de mechas. Máquinas
gigantescas, robôs de precisão e trabalhadores especializados se uniram em um
esforço coordenado para construir as unidades mais avançadas de combate que o
planeta já havia visto. O ruído constante das máquinas, o brilho das soldas e o
cheiro de metal fundido tornaram-se a nova melodia das cidades, que antes
estavam envoltas em silêncio e medo.
Enquanto isso, Elian e outros pilotos veteranos se dedicaram
a treinar a próxima geração de pilotos. Jovens de todas as nações foram
selecionados para aprender a operar as máquinas colossais. Muitos desses jovens
nunca haviam visto um dragão, mas cresceram ouvindo as histórias das batalhas
épicas travadas pelos veteranos como Elian. Agora, eles tinham a oportunidade
de seguir os passos de seus heróis, não apenas para defender seu próprio
planeta, mas para levar a luta até os céus, para mundos que eles só podiam
imaginar.
As academias de treinamento foram estabelecidas em todo o
planeta, e a competição para ingressar nelas era feroz. Cada aspirante a piloto
sabia que a responsabilidade que carregariam em suas costas era imensa. As
aulas eram rigorosas, cobrindo desde a teoria dos sistemas de mechas até o
combate real em simuladores avançados. Elian, que já havia passado por
incontáveis batalhas, sentia uma nova espécie de orgulho ao ver os jovens
pilotos em ação. Eles eram rápidos, ágeis e, acima de tudo, determinados.
Elian se tornou uma figura central nesse esforço, não apenas
como um piloto, mas como um mentor e símbolo de esperança. Ele foi convidado a
falar em eventos públicos, onde reforçava a importância da unidade global e da
missão que todos tinham pela frente. Seus discursos eram sempre diretos e
cheios de convicção, incentivando cada cidadão a dar o máximo de si.
“Este não é o fim,” dizia Elian em uma de suas aparições,
diante de uma multidão de trabalhadores e militares. “Nós sobrevivemos ao pior,
mas a verdadeira prova do nosso valor está apenas começando. Não lutamos apenas
por nós mesmos, mas por toda a humanidade. O que fazemos aqui ecoará por todo o
universo.”
O esforço global para construir mechas foi além das
fábricas. Cientistas e engenheiros começaram a trabalhar em novas tecnologias,
buscando aprimorar os mechas e torná-los ainda mais eficientes. Houve avanços
na capacidade de armamento, na durabilidade das armaduras e na integração dos
pilotos com suas máquinas. O Titã, mecha de Elian, tornou-se o protótipo para
muitas dessas inovações. Ele foi equipado com novos sistemas de energia que
permitiam disparos de alta intensidade e resistência aprimorada contra ataques
pesados.
As academias também incorporaram essas novas tecnologias,
garantindo que os novos pilotos estivessem prontos para qualquer desafio.
Treinos com gravidade variável simulavam as condições em diferentes planetas, e
os jovens pilotos aprendiam a lidar com cenários de combate em terrenos
desconhecidos. Elian, sempre presente, ajudava a ajustar os treinamentos,
compartilhando sua vasta experiência.
Enquanto isso, as notícias da preparação global começaram a
se espalhar pelos outros planetas. Os aliados que ainda enfrentavam os dragões
enviavam mensagens de esperança e gratidão. Sabiam que a ajuda estava a
caminho, mas também entendiam que levaria tempo para que os novos mechas
estivessem prontos e os pilotos completamente treinados.
No entanto, nem todos estavam otimistas. Dentro do próprio
planeta, surgiram debates sobre a viabilidade de ajudar outros mundos enquanto
ainda lidavam com as cicatrizes da guerra. Alguns líderes questionavam se era
prudente dividir suas forças, temendo que um ataque surpresa pudesse deixá-los
vulneráveis. Elian, embora confiante na decisão tomada, sabia que as dúvidas
eram naturais. Era impossível prever o que o futuro reservava, e os riscos eram
altos.
Essas preocupações levaram a uma nova rodada de reuniões
entre os líderes do planeta. Eles discutiam como equilibrar a proteção de seu
próprio mundo com a necessidade de ajudar os outros. Foi decidido que, enquanto
os mechas fossem construídos, um comitê de estratégia analisaria constantemente
as ameaças emergentes e ajustaria os planos de acordo. Isso significava que, se
um novo perigo surgisse em seu planeta, eles estariam prontos para reagir
rapidamente, sem comprometer a segurança global.
O tempo passava, e as fábricas continuavam a produzir mechas
a uma velocidade impressionante. Em pouco tempo, o planeta já possuía uma frota
suficiente para garantir sua defesa, permitindo que começassem a organizar as
forças que seriam enviadas para os outros planetas. Elian e Titã foram
designados para liderar uma dessas equipes, uma responsabilidade que ele
aceitou com um misto de honra e preocupação.
O dia da partida se aproximava, e enquanto os preparativos
finais eram feitos, Elian sentiu o peso da missão que estava prestes a
realizar. Ele sabia que, uma vez que partisse, não haveria garantias de
retorno. Mas essa era a natureza da guerra, e ele estava preparado para fazer o
que fosse necessário para garantir a sobrevivência da humanidade.
Na noite anterior à partida, Elian teve um momento de
introspecção. Ele estava em um dos hangares, observando Titã ser preparado para
a jornada. A gigantesca máquina estava coberta com uma nova camada de armadura,
reluzindo sob as luzes artificiais do hangar. Os engenheiros faziam os últimos
ajustes, e Elian podia ouvir o zumbido baixo dos sistemas de Titã sendo
ativados e testados.
Ele se aproximou da máquina, colocando a mão na superfície
fria e metálica. Sentiu uma conexão profunda com o mecha, como se Titã fosse
uma extensão de si mesmo. Juntos, haviam enfrentado perigos inimagináveis, e
agora estavam prestes a embarcar em uma nova aventura.
"Estamos prontos, velho amigo," sussurrou Elian,
como se o mecha pudesse ouvi-lo. "Mais uma missão, mais uma batalha. E
desta vez, levaremos a luta para além das estrelas."
Na manhã seguinte, os hangares estavam cheios de atividades.
Pilotos, engenheiros e soldados estavam ocupados com os preparativos finais. A
partida estava programada para o início da tarde, e o clima era de expectativa
e solenidade. As famílias dos pilotos vieram se despedir, e havia um silêncio
respeitoso entre todos, como se estivessem cientes da magnitude do que estava
por vir.
Elian, já vestido com seu traje de piloto, passou os
momentos finais com sua equipe. Ele revisou os planos de voo, discutiu
estratégias de combate e fez questão de ouvir as preocupações de cada um dos
membros. Embora ele fosse o líder, sabia que dependia de cada um deles para o
sucesso da missão.
Quando o momento finalmente chegou, Elian entrou no cockpit
de Titã. O espaço era apertado, mas familiar. As luzes do painel de controle
piscavam, e ele sentiu o leve tremor da máquina ganhando vida. Com um toque no
visor, ele ativou o sistema de comunicação.
"Aqui é Elian," disse ele, sua voz transmitida
para toda a frota de mechas. "Estamos prestes a embarcar em uma missão que
determinará o futuro de muitos. Lembrem-se, não estamos apenas lutando por nós
mesmos, mas por todos aqueles que não podem lutar. Vamos mostrar aos dragões
que a humanidade não será derrotada."
A resposta veio em forma de gritos de incentivo e promessas
de vitória. O Titã, agora totalmente operacional, deu seus primeiros passos em
direção à plataforma de lançamento. Elian olhou para o horizonte, onde os céus
estavam claros e o sol brilhava intensamente. Era um belo dia para partir,
pensou.
Quando a plataforma se abriu, revelando o vasto céu acima,
Elian sentiu uma onda de determinação correr por seu corpo. Esta não seria uma
jornada fácil, mas ele sabia que estava pronto. A frota começou a se mover, e
em questão de minutos, os mechas estavam no ar, suas formas colossais cortando
os céus enquanto se dirigiam para o espaço.
Comentários
Postar um comentário