Titã: Capítulo: 41

 

 

 A cidade em que Elian se encontrava parecia, por enquanto, um refúgio em meio ao caos da guerra dos mechas. As ruas ainda exibiam os sinais da batalha recente, com edifícios parcialmente destruídos, crateras no solo e escombros espalhados por toda parte. O som distante de máquinas e reconstrução era constante, enquanto equipes de reparo tentavam restaurar o que havia sido devastado. O Titã, descansando no centro da cidade, era uma presença imponente, uma lembrança silenciosa da batalha brutal que Elian e sua equipe haviam travado para proteger o local.

Agora, no entanto, Elian sabia que as ameaças vinham de todos os lados. Não era mais apenas uma questão de vigiar o céu em busca de dragões. Havia também o medo constante de que mechas rivais surgissem, buscando dominar territórios estratégicos ou eliminar concorrentes na guerra que começava a se intensificar. Cada segundo de paz parecia temporário, um intervalo curto entre confrontos inevitáveis.

Sentado no cockpit do Titã, Elian monitorava as leituras de energia ao redor da cidade. Os sistemas de vigilância haviam sido ajustados para detectar não apenas a presença dos dragões, mas também qualquer assinatura de mechas que pudesse se aproximar. Ele passava os olhos pelos monitores, atento a qualquer anomalia.

"O escopo da guerra mudou de uma maneira que eu nunca imaginei," pensou Elian. As batalhas contra os dragões, por mais devastadoras que fossem, pareciam mais simples comparadas à complexidade política e militar que agora cercava o conflito entre os reinos produtores de mechas. A desconfiança crescente entre as potências mecatrônicas se tornara uma nova sombra sobre o futuro da galáxia.

O comunicador interno do Titã deu um bip, interrompendo seus pensamentos. Era Lira.

"Capitão, alguma novidade por aí?" a voz dela soou, carregada de cansaço.

"Nada por enquanto," respondeu Elian. "Tudo calmo, mas isso me preocupa ainda mais. Depois do último ataque, estou esperando o pior."

"Entendo. Estou no Águia de Fogo, sobrevoando o perímetro da cidade. Também não vi nada, mas mantenho meus olhos abertos. Não sabemos se os rivais planejam outro ataque ou se os dragões vão voltar."

Elian suspirou. "Exatamente. Agora estamos no meio de uma guerra em duas frentes, Lira. Não podemos baixar a guarda."

"Concordo," ela disse. "Vou continuar patrulhando. Avise se notar qualquer coisa suspeita."

Assim que Lira desconectou, Elian voltou a analisar as leituras. A calmaria era estranha, quase inquietante. Ele sabia que a guerra dos mechas estava apenas começando e que, a qualquer momento, uma nova ofensiva poderia ocorrer.

À medida que o dia avançava, ele começou a pensar nas implicações da batalha mais recente. Na última luta contra os mechas rivais, Elian havia captado fragmentos de uma transmissão que indicavam algo preocupante: a guerra não era apenas por domínio de territórios, mas por controle absoluto das rotas de produção e do desenvolvimento de novas tecnologias mecatrônicas. Isso significava que os ataques poderiam ser direcionados a cidades como aquela, onde os recursos estratégicos para a fabricação de mechas eram abundantes.

Os reinos estavam buscando vantagem a qualquer custo, mesmo que isso significasse sacrificar populações inteiras para obter controle sobre as fábricas e tecnologias de mechas. E a cidade que Elian agora protegia tinha importância estratégica: uma das maiores fábricas de peças e componentes críticos estava localizada ali. Se fosse tomada pelos inimigos, o reino de Elian poderia perder uma de suas maiores fontes de suprimentos.

Uma luz piscou no painel do Titã, tirando Elian de seus pensamentos. Ele verificou os sensores: uma assinatura de energia desconhecida estava se aproximando da cidade.

"Lira, estou captando algo. Assinatura de mecha, mas não é nossa."

"Entendido, Capitão. Estou a caminho."

Elian imediatamente colocou o Titã em posição de combate. As leituras mostravam uma assinatura única, mas ele sabia que poderia ser apenas um batedor ou uma distração, parte de uma força maior. Ele ativou os sistemas de escudo do mecha e preparou as armas.

Quando o intruso finalmente apareceu no horizonte, Elian franziu a testa. Era um mecha solitário, grande e imponente, com uma armadura cinzenta e detalhes vermelhos que reluziam sob a luz do sol. A máquina caminhava lentamente em direção à cidade, sem fazer nenhuma tentativa de se esconder.

"É um mecha do reino rival," disse Elian para si mesmo. "O que eles estão planejando?"

Ele abriu o canal de comunicação e tentou estabelecer contato com o piloto do mecha desconhecido.

"Identifique-se!" a voz de Elian ecoou pela conexão. "Você está se aproximando de uma zona protegida. Declare suas intenções."

Por um momento, houve silêncio. Então, a voz do piloto desconhecido respondeu, fria e calculada: "Meu nome é Irvin. Estou aqui para negociar."

Elian estreitou os olhos. "Negociar? O que exatamente você espera negociar em meio a uma guerra?"

"Não sou tolo, Elian," respondeu Irvin. "Sei que as tensões entre os reinos estão crescendo. E sei que, em breve, as batalhas não serão mais apenas entre mechas e dragões, mas entre nós mesmos. Vim propor uma trégua, mas apenas se vocês se renderem e entregarem a cidade."

"Rendição?" Elian riu com desprezo. "Você está fora de si se acha que vamos entregar uma cidade inteira a um único mecha. Você está blefando."

Irvin respondeu com um tom mais sombrio. "Ah, Capitão, você pode acreditar no que quiser. Mas saiba disso: meu reino tem uma frota muito maior se aproximando. Estou apenas sendo cortês em te oferecer essa oportunidade de evitar uma destruição em massa."

Elian manteve a calma, mas sua mente estava a mil. Ele sabia que a ameaça poderia ser real. Se Irvin não estivesse mentindo, uma frota de mechas inimigos poderia estar a caminho. Porém, havia algo no tom confiante de Irvin que o fazia acreditar que o rival estava jogando com o tempo, tentando obter vantagem psicológica.

"Vou te dar uma resposta bem clara, Irvin," disse Elian, seu tom agora firme e implacável. "Se você acha que um mecha solitário pode intimidar essa cidade e os soldados que a defendem, está muito enganado. E se houver uma frota de mechas a caminho, estaremos prontos para enfrentá-la."

O Titã avançou um passo, e Elian ativou suas armas, apontando diretamente para o mecha de Irvin. "Se você quiser lutar, estarei mais do que disposto."

Por um momento, o silêncio predominou, mas então Irvin respondeu com uma risada baixa. "Acho que você não entende a gravidade da situação, Capitão. Mas muito bem. Se é assim que prefere, nos encontraremos no campo de batalha. Vou deixar uma pequena demonstração do que está por vir."

Antes que Elian pudesse reagir, o mecha de Irvin ergueu um braço e disparou um míssil de longo alcance em direção a um dos principais edifícios da cidade. O projétil voou rapidamente, e Elian soube que, se ele não agisse, a destruição seria imensa.

"Titã, ativar escudo de emergência!" Elian gritou, movendo o mecha com precisão para interceptar o míssil.

O escudo de energia se materializou à frente do Titã, absorvendo o impacto da explosão. Faíscas e fumaça envolveram o campo de força, e o chão tremeu com a onda de choque. Elian conseguiu conter a destruição, mas o ataque de Irvin havia deixado claro: não havia mais espaço para negociações.

"Ele está fugindo!" gritou Lira pelo comunicador. "Devo perseguir?"

Elian hesitou por um momento, observando o mecha de Irvin se afastar. "Não, deixe-o ir. Ele está apenas nos testando. Mas agora sabemos que eles realmente estão planejando algo maior."

Ele respirou fundo, o som de sua própria respiração ecoando no cockpit do Titã. "Precisamos preparar a cidade para o pior. Essa foi apenas a primeira de muitas provocações. A guerra dos mechas está se intensificando."

Elian sabia que o que acontecera ali não era um simples confronto isolado. Era o prenúncio de uma ofensiva maior, uma que poderia trazer consequências devastadoras não só para aquela cidade, mas para todos os planetas sob proteção do reino. O tempo estava se esgotando, e Elian precisava estar preparado para o que viria a seguir.

"Vamos nos preparar," disse ele, já formulando os próximos passos em sua mente. "A verdadeira guerra ainda não começou."

O dilema pairava no ar como uma sombra ameaçadora. Elian, dentro de seu mecha Titã, olhava para os monitores em seu cockpit, seus pensamentos confusos e pesados. As notícias que chegavam indicavam que havia planetas inteiros ainda dominados pelos dragões, enquanto o caos da guerra dos mechas apenas se intensificava. A questão que martelava sua mente era clara: ajudar esses planetas a se libertarem dos dragões significava arriscar uma guerra em duas frentes — enfrentar as feras aladas e, ao mesmo tempo, lidar com a ameaça dos mechas inimigos, que não hesitariam em atacar se vissem uma oportunidade.

Elian estava em seu posto na base avançada, localizada em um dos planetas que haviam conseguido salvar das garras dos dragões. A sala de comando estava tensa. Mapas holográficos brilhavam ao redor, mostrando os planetas ainda sob a tirania das bestas. As imagens das cidades em ruínas e das chamas devorando civilizações inteiras pairavam no ar, mas, dessa vez, não era apenas a devastação dos dragões que chamava a atenção — havia sinais de movimentação de mechas inimigos próximos a alguns desses planetas.

Ao seu lado, Rhea e Lira, suas companheiras de batalha, estavam igualmente inquietas. Lira, com sua habitual inquietude, andava de um lado para o outro, enquanto Rhea mantinha o rosto sério, observando os mapas.

“Se formos ajudar esses planetas, estaremos nos colocando diretamente no caminho dos mechas inimigos,” disse Rhea, sua voz firme. “Eles não vão perder a oportunidade de nos atacar quando estivermos ocupados com os dragões.”

Lira balançou a cabeça. “E se não fizermos nada, esses planetas estarão condenados. As pessoas que vivem lá não têm chance contra os dragões. É só questão de tempo até serem totalmente exterminadas.”

Elian permaneceu em silêncio por alguns segundos, refletindo. Ele sabia que ambas estavam certas. A situação era mais delicada do que qualquer coisa que já haviam enfrentado antes. Cada escolha que fizessem agora poderia significar a salvação ou a ruína de milhares de vidas.

“Não podemos ignorar os planetas que ainda estão sob ataque dos dragões,” disse Elian finalmente, quebrando o silêncio. “Mas não podemos ser ingênuos. Se formos, estaremos lutando em duas frentes, e isso significa que precisaremos de uma estratégia clara.”

Rhea cruzou os braços. “Uma estratégia que funcione em um campo de batalha onde os dragões já são devastadores por si só, e agora temos mechas inimigos que querem nossa destruição. Não podemos enfrentar todos ao mesmo tempo.”

“Precisamos dividir nossas forças com cuidado,” Elian continuou, traçando um plano em sua mente. “Se formos para um planeta atacado por dragões, precisaremos enviar uma equipe para distraí-los e manter o controle sobre os dragões, enquanto uma segunda equipe vigia os movimentos dos mechas inimigos.”

Lira parou de andar e olhou para Elian com determinação. “Eu posso cuidar da vigilância aérea. O Águia de Fogo é rápido o suficiente para monitorar os céus e alertar se os mechas rivais aparecerem.”

Rhea assentiu. “O Colosso pode segurar a linha contra os dragões no solo. Nosso escudo é forte o suficiente para conter ataques diretos enquanto os civis são evacuados.”

Elian pensou por um momento, visualizando o plano. Não era perfeito — nada era quando lidavam com dois inimigos tão diferentes e igualmente implacáveis — mas parecia ser a única opção viável.

“Está decidido,” disse ele. “Vamos ao próximo planeta que precisa de nossa ajuda. Mas precisamos estar preparados para um ataque surpresa dos mechas rivais. Não teremos margem para erros.”

O planeta Arkon era o próximo alvo da missão de Elian e sua equipe. Um mundo de desertos vastos e cidades escondidas em cavernas subterrâneas, Arkon havia sido um refúgio para milhares de pessoas tentando escapar dos dragões. No entanto, as feras aladas haviam encontrado seu caminho até lá. A batalha que esperava por Elian e sua equipe seria intensa, e o terreno acidentado apenas tornava a situação mais complicada.

Quando a equipe de mechas chegou à órbita de Arkon, os sensores do Titã começaram a captar sinais de dragões. Eram muitos, mais do que Elian esperava. As criaturas sobrevoavam as cidades subterrâneas, atacando qualquer coisa que estivesse na superfície e soltando rajadas de fogo que derretiam as rochas ao redor das entradas das cavernas. O calor era tão intenso que fazia o solo tremer.

“Nossas leituras estão captando pelo menos cinco dragões de grande porte na área,” relatou Lira, sobrevoando o planeta com o Águia de Fogo. “Eles estão cercando as entradas das cavernas. Se não agirmos logo, as pessoas não terão para onde fugir.”

Elian apertou os controles do Titã, fazendo o mecha descer pela atmosfera em direção ao planeta. “Rhea, Lira, mantenham-se juntos. Vamos liberar as entradas das cavernas primeiro. Lira, fique de olho no céu. Precisamos estar prontos para qualquer sinal de mechas inimigos.”

“Entendido, Capitão,” respondeu Lira, já ajustando os sistemas de reconhecimento do Águia de Fogo para capturar qualquer sinal suspeito.

Ao tocar o solo de Arkon, o Titã tremeu sob o impacto. O deserto parecia um mar de poeira vermelha, e o calor gerado pelos dragões que cuspiam fogo ao longe era sufocante. Elian observou os céus e viu um dos dragões.

 

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