Titã: Capítulo: 52
O horizonte permanecia sombrio, as nuvens pesadas sobre o reino pareciam refletir a tensão crescente no ar. O draconiano Alzarok montou novamente em seu dragão, e com um rugido profundo, a criatura alçou voo, cortando os céus em direção ao portal que levava de volta às terras dos dragões. A criatura era uma mancha negra contra o céu, e logo desapareceu entre as montanhas distantes. A ameaça deixada no ar, no entanto, era quase palpável.
Elian, dentro do seu mecha Titã, observava o recuo da
figura sinistra. Seus olhos acompanhavam o rastro deixado pelo dragão, seus
pensamentos agitados. As palavras de Alzarok ecoavam em sua mente, misturadas
com o som dos motores dos mechas aliados ao redor. O reino tinha agora uma escolha
difícil à sua frente: lutar contra uma ameaça que prometia destruição certa ou
ceder às exigências dos draconianos e permitir o retorno dos dragões àquelas
terras pacíficas.
— Ele vai voltar... — disse Lira, a oficial de
comunicações de Elian, quebrando o silêncio no canal. Sua voz estava baixa, mas
o tom de preocupação era evidente. — Você acha que o rei tomou a decisão
certa, Elian?
— Não temos escolha, Lira. — Elian respondeu, com um
suspiro. — Se permitirmos que os dragões voltem a reinar aqui, será o fim.
Eles não querem apenas coexistir, querem dominar, destruir. E não podemos
deixar que isso aconteça.
O Titã deu um passo à frente, o som metálico de suas
juntas ressoando ao tocar o solo. Elian sabia que precisava estar preparado
para o que estava por vir. Mesmo sem um confronto imediato, a batalha estava se
aproximando, e os dias de calmaria estavam contados.
— Avisem todos. — Elian comandou, ajustando a
frequência do seu comunicador. — O rei deseja que nos preparemos para um
ataque total. Não sabemos quando, mas sabemos que os dragões voltarão, e com
eles trarão devastação.
As ordens de Elian começaram a circular rapidamente por todo
o reino. Os preparativos para uma batalha iminente estavam em andamento.
Soldados começaram a ser mobilizados, cidadãos foram orientados a procurar
refúgio, e os engenheiros e mecânicos começaram a reforçar as defesas e reparar
os danos nos mechas que haviam sido afetados pelas batalhas anteriores.
Dentro da sala de comando do palácio real, as luzes piscavam
nos consoles e telões enquanto os estrategistas traçavam planos de defesa.
Elian foi chamado para a sala logo após o retorno ao quartel, e ao chegar,
encontrou o rei Aldren ao centro, seus conselheiros mais próximos e generais
rodeando uma mesa holográfica que projetava o mapa do reino.
— Elian, você já viu o que estamos enfrentando. — O
rei disse, sem desviar o olhar do mapa, enquanto Elian se aproximava. — Quais
são suas recomendações?
O piloto ponderou por um momento, analisando as
possibilidades.
— Os draconianos não atacarão de imediato. — começou
Elian, seus olhos examinando o mapa com atenção. — Eles sabem que estamos
cientes da ameaça. Alzarok foi claro: eles querem que recuemos por medo, que
nos rendamos antes que precisem atacar. Devemos nos preparar para uma guerra
prolongada, sem cair no erro de subestimá-los. Não podemos ceder. Mas também não
podemos abaixar a guarda.
O rei assentiu lentamente.
— E quanto aos portais? — um dos generais perguntou,
gesticulando para as passagens interdimensionais marcadas no mapa. — Ainda
não sabemos quantos dragões ou mechas inimigos podem usar os portais para
invadir nossas terras. Devemos fortificá-los imediatamente.
Elian concordou com a cabeça.
— Precisamos bloquear as rotas de acesso. — disse
ele, tocando no mapa holográfico. — Esses portais são a chave. Se os
draconianos não puderem cruzá-los, ganharemos tempo para fortalecer nossas
defesas. Sugiro colocar nossas tropas mais experientes nos portais principais.
Qualquer sinal de movimento deve ser respondido com força total.
O rei observou os planos sendo feitos e, por um breve
momento, seus olhos se voltaram para Elian, revelando uma sombra de dúvida.
— E se estivermos errados, Elian? — ele perguntou em
um tom mais baixo, para que apenas o piloto pudesse ouvir. — E se a guerra
contra os dragões for um erro que custará mais vidas do que estamos preparados
para perder?
Elian sabia que o peso da liderança era imenso, mas ele
também sabia que a hesitação poderia ser fatal. Respondeu com convicção.
— Majestade, se há uma coisa que os dragões nos ensinaram
ao longo da história, é que sua ganância e sede de poder não conhecem limites.
Se cedermos agora, seremos devorados por eles mais tarde. Devemos lutar pelo
que é nosso, ou perecer tentando.
O rei manteve o olhar fixo em Elian por mais alguns
instantes, antes de voltar sua atenção ao mapa.
— Que assim seja. Prepararemos as defesas.
Nos dias que se seguiram, o reino passou por uma mobilização
sem precedentes. As cidades próximas aos portais foram transformadas em
fortalezas improvisadas, com muralhas reforçadas e sistemas de defesa
antimísseis instalados para impedir qualquer incursão aérea dos dragões.
Soldados e pilotos de mechas treinavam incansavelmente, aprimorando suas
técnicas de combate tanto contra dragões quanto contra mechas inimigos.
No entanto, estranhamente, nenhum ataque aconteceu.
Os dias passaram, e as semanas se arrastaram em um estado de
constante alerta. O reino estava preparado para uma batalha iminente, mas nada
acontecia. Os dragões e draconianos, aparentemente, haviam desaparecido, e a
ameaça que todos temiam parecia ter se dissipado no ar.
Elian continuava a liderar seus homens, realizando
exercícios diários, verificando o estado dos mechas, e mantendo uma rotina
disciplinada. Mas o silêncio se tornava cada vez mais ensurdecedor.
— Será que os draconianos desistiram? — perguntou
Lira, enquanto caminhava ao lado de Elian, perto de uma das bases de mechas.
— Não. — Elian respondeu de imediato, olhando para o
horizonte. — Isso é uma tática. Eles estão esperando, nos observando. Querem
nos desgastar, nos fazer relaxar. Quando estivermos mais vulneráveis, é então
que atacarão.
O que mais incomodava Elian era o fato de não haver qualquer
movimentação nos portais. Eles estavam completamente quietos. Nenhum sinal de
dragões ou mechas inimigos atravessando. Isso apenas reforçava sua teoria de
que algo maior estava por vir.
Um mês se passou sem incidentes, e a população do reino
começou a retornar a uma rotina normal. Os cidadãos, embora ainda cautelosos,
voltaram a cuidar de suas vidas, trabalhando nos campos, nas oficinas, nas
escolas. Parecia que a ameaça de uma invasão draconiana havia se dissipado.
Entretanto, Elian nunca baixou a guarda. Ele sabia que a calma era apenas um
prelúdio para algo pior.
Foi então, numa tarde tranquila, enquanto o sol começava a
se pôr no horizonte, que um ruído familiar preencheu o ar. O chão começou a
tremer levemente, e o céu escureceu de forma incomum. Elian estava realizando
uma inspeção nos portais quando os sensores do Titã detectaram uma
anomalia.
— Capitão Elian! Temos atividade no portal norte! —
uma voz apressada soou no comunicador.
O coração de Elian disparou. Finalmente, algo estava
acontecendo. Ele saltou para dentro do Titã e ativou todos os sistemas,
dirigindo-se rapidamente ao local.
Chegando lá, ele viu o que temia: o portal estava emitindo
um brilho intenso, pulsando com energia. O ar ao redor parecia distorcido, como
se a própria realidade estivesse sendo dobrada.
— Preparem-se! — gritou Elian pelo canal de
comunicação. — Todos os mechas em posição! Algo grande está prestes a
atravessar!
O reino estava mergulhado em um estranho silêncio. Embora
seja caro para uma possível investigação sobre todo o vapor, o ar parece mais
pesado do que o normal. O boato se espalhou pelas ruas e corredores como um
incêndio incontrolável: o rei havia recusado um tratado de paz oferecido pelos
draconianos. As vozes sussurradas nas tabernas, nas feiras e até nas guaritas
dos soldados ecoavam uma única pergunta: Por que?
Elian, dentro de seu mecha Titã , estava parado nas
docas de manutenção, observando os mecânicos e engenheiros trabalhando
incessantemente nos reparos e aprimoramentos das máquinas de combate. A poeira
metálica subia em finos veios, se misturando ao brilho opaco do sol matinal que
iluminava o campo de treinamento ao longo. Ele poderia sentir a tensão no ar,
mesmo ali.
— Capitão, ouviu as notícias? — Disse Lira, se
aproximando do Titã . Sua voz soava hesitante pelo comunicador, como se
estivesse incerta de como Elian reagia. — Sobre o tratado de paz?
Elian demorou alguns segundos antes de responder, analisando
o impacto que aquilo poderia ter sobre suas tropas e, mais importante, sobre o
próprio futuro do reino. O som de uma chave sendo atirada no chão chamou sua
atenção; um dos mecânicos havia deixado cair suas ferramentas, claramente
distraído pelas conversas ao redor.
— Sim, ouvi. — disse ele, finalmente. — Todos
estão falando disso.
Olhando para os trabalhadores ao seu redor, Elian sentiu o
peso do barco se espalhando entre eles. As palavras que os soldados e mecânicos
cochichavam eram difíceis de ignorar: "Paz recusada? Por quê?"
, "O rei não pode estar pensando claramente." , "Isso
nos leva a uma guerra que podemos evitar."
Dentro da sala de controle do Titã , ele analisava as
mensagens que circulavam nos canais internos. Informações mais divulgadas,
fragmentos de reuniões que vazaram, chegaram aos seus ouvidos através de
contatos de confiança. O tratado oferecido pelos draconianos não era, de fato,
uma rendição, mas uma trégua temporária. Eles pediram o território de volta —
as terras onde seus ancestrais dragões uma vez reinaram, alegando que, se
recuperassem esse espaço, viveriam em harmonia com os humanos. Mas o rei Aldren
se recusa a ceder qualquer palmo de terra.
Elian entendeu a lógica do rei. Sabia que os dragonianos
eram mestres em manipulação, e uma "trégua" poderia ser apenas o
prelúdio de uma invasão maior. No entanto, a população estava cansada. As
pessoas estavam começando a questionar a sabedoria dessa decisão.
Ele saiu do Titã , desceu pela estrutura mecânica da
máquina, e logo se viu caminhado entre os soldados e técnicos que o
cumprimentavam com breves acenos. Alguns deles olharam com expectativa, outros
com incerteza. O capitão Elian era uma figura respeitada, e sua palavra tinha
peso. Muitos estavam esperando que ele desse algum tipo de direção ou
justificativa.
— Capitão Elian! — uma voz o chamou da entrada do
hangar. Era Kallen, um dos tenentes de confiança, correndo até ele com um
semblante preocupado. — Há murmúrios no quartel-geral. O pessoal está
começando a se perguntar se devemos mesmo seguir o rei nesta... cruzada.
Elian franziu o cenho.
— A cruz é necessária, Kallen. O rei está tentando
proteger o que é nosso. — sua voz soava firme, mas não rígida. Ele entendeu
a hesitação de que deveria entrar em contato com os soldados.
Kallen passou a mão pelos cabelos e suspirou.
— Eu sei disso, capitão. Mas muitos não sabem. Eles estão
começando a pensar que talvez estejam devêssemos negociar. Que talvez, só
talvez, os draconianos estejam falando a verdade.
Elian parou e fitou o horizonte, pensando nas implicações
daqui. Era natural que, sem as batalhas ou ataques iminentes, o medo e a
insegurança encontrassem espaço para crescer. As pessoas estavam exaustas,
preocupadas com suas famílias e com o futuro do reino. Mesmo os soldados
treinados estavam questionando as decisões que vinham de cima.
— precisamos garantir que nossos homens confiem nas
lideranças. — disse ele após uma longa pausa. — Se começarmos a duvidar
agora, já perdemos antes de a batalha começar.
Kallen concordou, mas a preocupação em seus olhos não está
distante.
Ao longo dos dias que se seguiram, Elian notou que o reino
estava gradualmente entrando em um estado de incerteza. As ruas, que antes
estavam repletas de pessoas com esperança e determinação, agora eram dominadas
por murmúrios de apreensão. Na praça central da cidade, grupos se reuniam ao
redor de bardos e oradores, discutindo o destino do reino, questionando o que
seria de suas terras e famílias. Por que o rei decidiu a paz? Por que
estamos nos preparando para uma guerra que talvez nunca aconteça?
Elian fez o possível para manter a moral de seus homens
elevados. As reuniões eram frequentes, treinos intensificados, mas havia uma
sensação de que tudo aquilo não passava de uma espera interminável por algo
ocorrido. Sem batalhas, sem invasões, o reino parecia preso em um limbo entre a
paz que não chegava e a guerra que não se iniciava.
Em uma dessas reuniões, Elian se encontrou com os capitães
de cada unidade. Dentro da sala de estratégia, uma enorme mesa holográfica
exibia o reino e suas fortificações, com ícones representando os portais e as
rotas de entrada que poderiam ser usadas pelos draconianos.
— Capitão Elian, a situação está ficando cada vez mais
complicada. — disse o capitão Rhoras, um homem corpulento e conhecido por
sua franqueza. — Nossos soldados estão começando a questionar abertamente as
ordens. Alguns falando em desmobilização. Não podemos ignorar isso.
Elian descobriu com a cabeça.
— Precisamos de uma mensagem clara. — começou ele,
olhando para todos na sala. — Se as tropas e o povo estão questionando o
rei, devemos ser uma linha de confiança entre eles e a liderança. Se perdermos
essa confiança, o reino estará vulnerável, não importa quantos mechas ou
defesas tenhamos.
— E o que sugere? — Disse um dos capitães, claramente
preocupado com a crescente insubordinação.
Elian sabia que eu deveria agir com sabedoria. Uma palavra
errada, e ele poderia fomentar mais dúvidas ao invés de apaziguá-las.
— Precisamos de comunicação clara. — respondeu ele. —
Explique aos seus homens que a paz oferecida aos draconianos é uma armadilha.
Eles não querem viver em harmonia, querem subjugar. O rei não recusa a paz por
arrogância, mas porque ele vê além da proposta enganosa. Vamos fortalecer
nossos postos e fortalecer nossa prontidão.
Os capitães assentiram, embora a tensão não fosse evidente.
Depois da reunião, Elian caminhou sozinho pelas muralhas da
cidade. A noite começava a cair, e as luzes dos edifícios lançavam sombras
compridas no chão de pedra. Ele podia ouvir o murmúrio das conversas ao longo,
uma incerteza ainda presente em cada esquina, mas havia também algo mais. Um
sentimento profundo de que o reino estava à beira de um ponto de virada, como
uma maré que começava a mudar lentamente.
Elian parou no alto da muralha e olhou para o horizonte,
para o vasto território que defendia. Ele sabia que uma paz recusada poderia
ser vista como uma oportunidade perdida por muitos. Mas ele também sabia que os
dragões e seus cavaleiros dragonianos não eram confiáveis. Uma guerra
evitada com um acordo falso seria muito pior do que uma guerra justa.
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