Titã: Capítulo: 53
O reino de Aldren, onde Elian servia como um dos mais renomados capitães com seu poderoso mecha Titã , estava passando por uma fase de inquietação crescente. O silêncio das últimas semanas, sem batalhas ou invasões, havia dado lugar a algo mais insidioso: os draconianos não estavam mais simplesmente à espreita além dos portais; agora, alguns deles estavam entrando sorrateiramente no reino.
Elian observava com cautela as notícias que chegavam de
diversas vilas e cidades ao redor. Os draconianos não estavam atacando com sua
fúria costumeira, como os relatos antigos haviam sido descritos. Não havia
chamas devastadoras ou rugidos ameaçadores. Pelo contrário, eles vinham
chegando disfarçados de mensageiros de paz e abundância, oferecendo comida e
bebida às pessoas comuns, e espalhando promessas de prosperidade.
No início, pelo menos acreditaram. As histórias contadas
pelos anciãos sobre os draconianos eram histórias de morte e destruição, de
dragões que devastaram as terras em épocas passadas. Mas a fome era uma arma
poderosa, e o reino de Aldren estava enfraquecido pelas batalhas recentes, com
suas rotas comerciais interrompidas e suas colheitas dizimadas pelos conflitos.
Quando os primeiros draconianos chegaram com cestos de frutas e barris de
vinho, muitos ficaram desconfiados. Porém, à medida que as ofertas continuavam,
mais e mais pessoas começavam a aceitar.
Elian, do alto das muralhas de uma das cidades fronteiriças,
auxilia com apreensão. Ele estava em comunicação constante com seus
comandantes, e os relatos que recebia eram perturbadores. Soldados relatavam
que os draconianos não vinham com espadas em mãos, mas com presentes de
sedução. "Um ataque psicológico" , pensou Elian, enquanto via
os rostos das pessoas nas ruas abaixo, cada vez mais receptivos que as ofertas.
— Capitão, o que devemos fazer? — disse Kallen, se
aproximando com um semblante preocupado. — Eles não estão atacando, mas
estão conquistando as pessoas com essas... ofertas.
Elian olhou para seu subordinado e suspirou. Era uma guerra
de outro tipo. Uma guerra silenciosa e, de certa forma, muito mais perigosa do
que as batalhas diretas nas quais ele e o Titã estavam preparados para
lutar.
— precisamos ser cautelosos, Kallen. — respondeu
Elian, seus olhos fixos nas movimentações abaixo. — Se agirmos de forma
agressiva agora, isso só dará mais força aos draconianos. preciso entender o
jogo deles.
Nos dias que se seguiram, Elian e seus homens continuaram
observando as movimentações. Cada vez mais draconianos apareciam nas vilas e
cidades, sempre com suas ofertas generosas de comida e bebida. O povo, que
antes os olhava com suspeitas, agora os recebia com sorrisos tímidos,
agradecendo pelos presentes que aliviavam suas privações.
Elian decidiu agir, mas não com força bruta. Ele reuniu seus
tenentes em uma sala de estratégia no castelo, onde o rei Aldren e seus
conselheiros também estavam presentes. Um mapa holográfico do reino foi
projetado na mesa central, com marcações inferiores às áreas onde os
draconianos tinham sido vistos.
— Capitão Elian, estamos em uma encruzilhada. — disse
o rei Aldren, sua voz grave ecoando pela sala. — Esses draconianos estão
subvertendo nosso povo, mas qualquer ataque direto pode parecer uma agressão
desnecessária, um ato de tirania contra aqueles que estão, aparentemente, nos
ajudando.
Elian concordou, entendendo o dilema. Atacar agora poderia
ser visto como uma denúncia da confiança que os draconianos estavam construindo
lentamente entre o povo. Mas deixar que essa situação continue poderia ser
desastrosa. Ele sabia que havia algo mais profundo nos planos dos draconianos,
mas ainda não conseguia ver o quadro completo.
— Majestade, não podemos ignorar o fato de que os
draconianos estão manipulando a situação a seu favor. — começou Elian,
inclinando-se sobre a mesa. — Mas atacar diretamente não é uma resposta.
Precisamos conquistar o apoio do nosso povo de volta. Mostre a eles que o que
os draconianos oferecem não é uma salvação, mas uma armadilha.
O rei o encarou, suas sobrancelhas franzidas em
concentração.
— Como sugere que faremos isso?
– Propaganda. — respondeu Elian, de forma simples. — precisamos
nos conectar com o povo. Mostrá-los o que realmente está no jogo aqui. Sabemos
que os draconianos não querem apenas coexistir pacificamente. Eles querem
retomar esses terrenos para seus próprios propósitos. Precisamos usar bardos,
mensageiros, até mesmo cenas públicas, para relembrar o nosso povo dos horrores
que esses seres podem trazer.
O conselheiro real, um homem velho e sábios chamado
Thallion, assentiu lentamente.
— É uma estratégia arriscada, mas não sem mérito. O povo
se lembra das histórias antigas. Podemos reavivar essas memórias antes que a
gratidão os cegue.
— E mais, precisamos de um símbolo. — acrescentou
Elian, sua mente trabalhando rapidamente. — Algo que inspira o povo.
Precisamos mostrar que estamos aqui para observá-los, que não abandonamos
nossas terras ou nosso povo.
O rei Aldren ponderou por alguns momentos, antes de se
levantar da cadeira.
— Você tem razão, capitão. Vamos seguir sua estratégia.
Prepare seus homens para manter a ordem, mas não queremos confrontos
desnecessários com os draconianos por enquanto. E quanto ao símbolo que
parece... o que tem em mente?
Elian olhou para o mapa do reino, seus olhos caindo sobre a
cidade de Aethal , um dos lugares mais afetados pelas recentes invasões
dos draconianos.
— precisamos reerguer as defesas em Aethal . Mostrar que
não recuperamos. E talvez o próprio Titã deva liderar uma marcha pelas ruas,
lembrando ao povo que ainda estamos aqui, prontos para defendê-los.
O rei assentiu.
— Faça isso, Elián. E lembre-se: não podemos perder essa
batalha silenciosa.
Nos dias seguintes, Elian e seus soldados começaram a
implementar o plano. Os bardos começaram a cantar canções antigas de batalhas
contra dragões, relembrando a devastação que eles causaram no passado.
Encenações públicas mostravam a brutalidade das criaturas, com histórias sobre
vilarejos inteiros queimados até as cinzas. Mensagens foram enviadas aos quatro
cantos do reino, alertando sobre a verdadeira intenção dos draconianos.
Enquanto isso, Elian liderava o Titã pelas ruas de Aethal
, uma das maiores cidades do reino. As pessoas se reuniam nas janelas e nas
praças, observando em silêncio enquanto o mecha passava, sua imponente figura
trazendo à tona memórias de batalhas anteriores e o senso de proteção que ele
representava. Os soldados marchavam ao seu lado, suas armaduras brilhando sob o
sol.
Mas, apesar de todo o esforço, os draconianos continuaram a
trabalhar nas sombras, oferecendo suas riquezas e presentes. As conversas nas
tabernas e nas feiras ainda questionavam o que pretendiam do rei.
“Se eles querem apenas coexistir, por que não podemos
permitir isso?”
“Não temos o suficiente para nós mesmos? Talvez seja hora
de mudanças.”
Esses murmúrios ecoavam por todo o reino, e Elian sabia que
sua batalha não seria fácil. Não haveria lutas físicas, pelo menos não ainda.
Ele estava lutando uma guerra pelo coração e pela mente das pessoas, e os
draconianos eram adversários astutos.
Elian, acompanhando a posição do capitão, via como a
situação estava saindo do controle. O reino, antes unido contra inimigos
externos, agora parecia à beira de uma revolta interna. E o que mais a
preocupava era que os draconianos, mesmo não empunhando armas diretamente,
justificavam manipular estar fazendo essa insatisfação a seu favor.
As discussões nas ruas se intensificaram, as vozes ganharam
um tom mais furioso e desesperado. Aqueles que aceitaram os presentes dos
draconianos começaram a influenciar seus vizinhos. O povo, que antes idolatrava
o rei Aldren por suas decisões firmes e sua proteção, agora começava a vê-lo
como um tirano que recusava uma "paz" oferecida de forma generosa
pelos draconianos.
— Eles só querem coexistir! — gritava um homem numa
das praças, enquanto multidões se reuniam ao seu redor. — E o rei? Ele
prefere manter suas guerras e nos deixar morrer de fome.
Essas palavras inflamaram ainda mais os ânimos. Elian, que
ouvia tudo de longe enquanto patrulhava as ruas com seus homens e o Titã
, sentia um frio na espinha. Ele conhecia os sinais de uma revolução em curso.
As faíscas estavam sendo acesas, e logo poderia explodir em algo muito maior.
Naquela noite, em uma reunião estratégica no castelo, o rei
Aldren estava de pé, com um semblante rígido, enquanto seus conselheiros
murmuravam preocupados.
— O povo está voltando contra mim, Elian. — disse o
rei, seus olhos cravados no capitão. — Estão sendo envenenados pelos
draconianos.
— Majestade, eles estão jogando com a fome e o desespero
do nosso povo. Sabem que uma guerra física não é favorável a eles no momento,
então estão apostando em subverter a nossa base, conquistando o coração das
pessoas.
Aldren suspirou profundamente, passando a mão pelos cabelos
grisalhos. Ele era um rei justo, mas as situações o estavam levando a um ponto
onde a justiça parecia cada vez mais difícil de manter.
— O que sugere, Elian? Como podemos evitar que o caos se
instale?
Elian não tinha uma resposta fácil. A situação era
extremamente delicada. Forçar o povo a abandonar as ofertas dos draconianos
poderia apenas incitar mais violência. No entanto, ignorar o crescente
descontentamento era como deixar uma chama se alastrar até se tornar um
incêndio incontrolável.
— precisamos manter a ordem sem parecer que estamos
oprimindo o povo. —disse Elian, cauteloso. — Os mechas devem ser vistos,
mas sem intimidar. Devemos reforçar a presença militar para proteger o reino e,
ao mesmo tempo, tentar abrir um diálogo com aqueles que estão se voltando
contra a coroa. precisamos de tempo para virar a maré dessa manipulação.
Mas o tempo, como logo percebi, estava se esgotando.
Na manhã seguinte, uma onda de revolta finalmente eclodiu.
Uma multidão furiosa se formou nos arredores da praça principal de Aethal,
marchando em direção ao castelo. Eles carregavam tochas e paus, gritando
slogans contra o rei Aldren. As notícias de que ele havia rejeitado o
"tratado de paz" oferecido pelo draconiano se espalharam rapidamente,
distorcendo a percepção dos fatos.
— Abaixo o rei! — gritavam os manifestantes. — Chega
de guerra! Queremos paz! Queremos comida!
Elian estava na entrada do castelo, observando a situação se
deteriorar rapidamente. Ele havia recebido ordens diretas de proteger o rei a
qualquer custo, e seus homens estavam prontos, seus mechas posicionados
estrategicamente ao longo das muralhas. O Titã estava ao seu lado,
brilhando à luz do sol, sua imponente figura uma lembrança constante da força
militar do reino.
A multidão começou a se aproximar mais e mais, pressionando
contra as linhas de defesa.
— Capitão Elian! — um dos soldados veio correndo em
sua direção. — Estão tentando entrar à força. Estão dizendo que querem a
cabeça do rei!
Elian apertou os dentes. Ele sabia que o momento decisivo
havia chegado.
— Preparem-se. Não podemos permitir que eles passem. Mas
não usem força letal. Precisamos acalmar essa revolta, não alimentá-la.
Os soldados assentiram e rapidamente se posicionaram ao
longo das portas do castelo. Os mechas ativaram seus escudos, criando uma
barreira brilhante entre a multidão e a entrada. Elian estava no comando, mas
ele sabia que, se a situação saís
Elian, no topo do Titã, observava a crescente tensão
abaixo de si. A praça em frente ao castelo estava repleta de pessoas
enfurecidas, uma massa fervilhante de cidadãos que, alimentados pela
manipulação dos draconianos, agora viam o rei Aldren como um tirano. As vozes
da multidão ressoavam como trovões abafados ao longe, mas o som ameaçava se
aproximar a cada segundo.
— Capitão! — A voz de um de seus subordinados ecoou
pelo comunicador interno. — O que faremos se eles ultrapassarem a barreira?
Elian manteve os olhos na multidão, sua mente correndo em
várias direções ao mesmo tempo. Ele tinha sido treinado para enfrentar dragões,
monstros, mechas inimigos... mas seu próprio povo? Isso era diferente. Cada
movimento que ele fazia precisava ser calculado para evitar um massacre. Ainda
assim, ele sabia que, se a situação piorasse, teria que agir rapidamente para
proteger o rei e o reino.
— Mantenham a formação. — Elian ordenou. — Não
ataquem a menos que seja absolutamente necessário. Vamos conter isso com calma.
Os mechas posicionados ao redor do castelo ergueram seus
escudos de energia, formando uma barreira reluzente entre o povo e o castelo.
Mesmo assim, Elian sabia que a barreira física não era suficiente para barrar o
descontentamento crescente. Os draconianos tinham jogado bem, semearam a
desconfiança, e agora o reino estava em uma encruzilhada.
A multidão continuava avançando, empurrando contra os
soldados que, embora bem equipados, não estavam preparados para confrontar seu
próprio povo.
— Queremos o rei! — um homem gritou, sua voz cortando
o barulho da praça. — Ele nos traiu! Ele quer a guerra enquanto os
draconianos oferecem paz!
— Mentiras! — outro ecoou, tentando se posicionar
contra a multidão. — Os draconianos são nossos verdadeiros inimigos!
A praça estava à beira do caos completo, com pessoas se
empurrando, discutindo e, em alguns casos, começando a lutar entre si. A
violência verbal rapidamente começou a se transformar em algo mais físico.
Pedras foram arremessadas contra a barreira dos mechas, enquanto gritos de
desespero e raiva se misturavam.
Elian respirou fundo, sentindo o peso da responsabilidade.
Ele sabia que qualquer movimento em falso poderia resultar em um desastre de
proporções inimagináveis.
— Capitão, temos que fazer alguma coisa! — a voz de
seu segundo em comando soou novamente. — A situação está saindo do controle.
Elian sabia disso, mas ele também sabia que, naquele
momento, mais do que força bruta, ele precisava de estratégia. Aldren
era um rei justo, mas o povo estava cego pela fome, pelas promessas fáceis dos
draconianos, e pela crescente desconfiança nas lideranças do reino.
— Mantenham a linha. Vou descer.
Ele sentiu o peso das palavras enquanto pronunciava a ordem.
Os olhos de seus homens, confusos, voltaram-se para ele, mas Elian sabia o que
estava fazendo. O Titã, com seu poder esmagador, não era a ferramenta
adequada para essa batalha. Ele precisava estar no solo, frente a frente com o
povo, para tentar conter essa revolta de outra maneira.
Elian desceu do Titã, pousando com um estrondo no centro da
praça, sua armadura reluzente chamando a atenção de todos ao redor. Ele
caminhou até onde a multidão estava mais agitada, o calor das tochas iluminando
seu rosto determinado.
— Parem! — Ele gritou, sua voz amplificada ecoando
por toda a praça.
O murmúrio da multidão vacilou, as pessoas se viraram para
ele, surpresas com a presença do capitão.
— Eu sou Elian, comandante dos mechas que protegem este
reino! E eu luto ao lado de vocês, não contra vocês. — A voz dele era
firme, mas não ameaçadora. — Este rei, o rei Aldren, sempre protegeu o povo,
mesmo em tempos difíceis como agora. Vocês estão sendo manipulados por forças
que não entendem!
Alguns na multidão murmuraram, mas outros pareciam hesitar,
suas mãos abaixando as armas improvisadas. Elian aproveitou o momento.
— Os draconianos podem oferecer comida hoje, mas a que
preço? Eles estão usando vocês como peões em um jogo maior. Uma vez que tomem o
controle, vocês estarão à mercê deles!
— E o que o rei fez por nós ultimamente? — um homem
gritou de volta, seus olhos cheios de raiva e desespero. — Enquanto lutamos
para sobreviver, ele recusa uma paz que poderia nos salvar!
Elian engoliu seco. Ele sabia que não podia negar as
dificuldades pelas quais o povo passava. A guerra contra os dragões e os mechas
inimigos havia deixado cicatrizes profundas no reino, e as decisões de Aldren,
por mais estratégicas que fossem, não haviam sido bem compreendidas.
— Eu entendo a dor de vocês, — Elian disse, dando um
passo à frente. — Mas desistir da nossa liberdade por promessas vazias não é
a solução. Já enfrentamos dragões, já enfrentamos inimigos além dos portais, e
agora, estamos sendo testados de novo. Precisamos da união de todos para vencer
essa batalha, e não de mais divisões.
A multidão começou a se acalmar. Alguns baixaram as armas,
enquanto outros ainda hesitavam, mas as palavras de Elian estavam plantando
sementes de dúvida nos corações inflamados pelo desespero.
Mas então, no horizonte, um som familiar começou a crescer,
um zumbido que todos conheciam bem demais. O chão tremeu sob seus pés, e Elian
soube de imediato o que estava acontecendo.
— Mechas! — alguém gritou.
No horizonte, surgiam formas gigantescas. Eram mechas, mas
não os de Elian e seu exército. Eram mechas dos draconianos, grandes máquinas
de guerra, esculpidas com o símbolo do dragão nas armaduras. O estrondo de suas
passadas era ensurdecedor.
A multidão, que antes estava se acalmando, agora começava a
se agitar novamente, desta vez com medo. Os mechas draconianos estavam ali, e
não era para oferecer mais comida.
Elian apertou os punhos, seu coração acelerando. Ele não
poderia deixar que isso se tornasse um massacre.
— Voltem para suas casas! — ele gritou para o povo. —
Deixem isso conosco. Nós os protegeremos!
Sem perder mais tempo, Elian correu de volta ao Titã.
Ele sabia que essa batalha não poderia ser evitada, mas talvez, apenas talvez,
ele pudesse proteger tanto o reino quanto o povo sem derramamento de sangue
civil.
Os mechas draconianos avançaram, suas armas brilhando
enquanto se preparavam para atacar.
Elian entrou no Titã, as luzes internas piscando
enquanto o sistema de comando se ativava. Ele sentiu o poder da máquina
correndo por seus nervos, como uma extensão de seu próprio corpo.
— Soldados, formem a linha! — Elian ordenou pelo
comunicador. — Preparem-se para enfrentar os mechas inimigos!
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