Prisão 666: Capítulo: 04

 


 Lucas observava Luís de longe, sentado em um canto do pátio da prisão. O homem estava sempre sozinho, com um rosário nas mãos, murmurando orações em voz baixa. Seus lábios se moviam rapidamente, e seus olhos estavam fechados, como se estivesse em um estado de profunda concentração. Lucas não era um homem religioso, mas algo na devoção de Luís o intrigava. Havia uma intensidade em suas orações, como se ele estivesse lutando contra algo invisível.

Nos últimos dias, Lucas tinha notado que Luís parecia cada vez mais agitado. Ele passava horas rezando, e quando não estava rezando, ficava olhando para as sombras, como se esperasse que algo surgisse delas. Lucas sabia que não era o único a perceber isso. Outros presos cochichavam sobre Luís, chamando-o de "louco" ou "endemoniado". Mas Lucas sentia que havia mais naquela história.

Uma tarde, enquanto caminhava pelo pátio, Lucas decidiu se aproximar de Luís. Ele não sabia por quê, mas sentia que precisava falar com ele. Talvez fosse a solidão, ou talvez fosse a sensação de que Luís sabia algo sobre as sombras que assombravam a prisão.

"Oi", Lucas disse, sentando-se ao lado de Luís. "Você está bem?"

Luís abriu os olhos lentamente, como se estivesse voltando de um lugar distante. Ele olhou para Lucas com uma expressão cansada, mas seus olhos eram penetrantes, como se pudessem ver além da superfície.

"Você sente também, não sente?", Luís perguntou, sua voz baixa e rouca.

Lucas hesitou. "Sinto o quê?"

"A presença. Ela está aqui, sempre observando, sempre esperando."

Lucas sentiu um frio percorrer sua espinha. Ele não queria admitir, mas sabia exatamente do que Luís estava falando. As sombras, os sussurros, a sensação de estar sendo observado — tudo isso estava se tornando cada vez mais intenso.

"Eu... eu não sei", Lucas respondeu, evitando o olhar de Luís. "Eu só quero sobreviver aqui."

Luís balançou a cabeça, como se soubesse que Lucas estava mentindo. "Você não pode ignorar isso. Elas estão ficando mais fortes. E elas escolheram você."

Lucas olhou para Luís, seus olhos cheios de medo. "O que você quer dizer com 'elas escolheram você'?"

Luís fechou os rosário em suas mãos, apertando-o com força. "Há algo nesta prisão, algo antigo e maligno. Elas se alimentam de medo, de dor... de sangue. E elas sabem que você é diferente. Elas sabem que você pode vê-las."

Lucas sentiu um aperto no peito. Ele não queria acreditar no que Luís estava dizendo, mas algo dentro dele sabia que era verdade. As sombras estavam lá, e elas estavam de olho nele.

"O que eu faço?", Lucas perguntou, sua voz quase um sussurro.

Luís olhou para ele por um momento, seus olhos cheios de uma mistura de pena e determinação. "Você precisa lutar. Mas cuidado. Nem todos aqui são o que parecem. Alguns já foram corrompidos. Eles trabalham para as sombras."

Lucas engoliu seco. Ele não sabia o que dizer. A ideia de que alguns dos presos poderiam estar trabalhando para as sombras era aterrorizante. Ele olhou ao redor do pátio, observando os outros presos com novos olhos. Quem poderia ser confiável? Quem poderia estar do lado delas?

"Eu... eu não sei se consigo lutar", Lucas admitiu, sua voz tremendo.

Luís colocou uma mão em seu ombro, surpreendentemente gentil. "Você é mais forte do que pensa. Mas você precisa estar preparado. Elas vão tentar te usar, te corromper. Você precisa resistir."

Lucas assentiu, sentindo um peso enorme em seus ombros. Ele sabia que Luís estava certo, mas não sabia por onde começar. Como ele poderia lutar contra algo que não podia ver?

Naquela noite, Lucas não conseguiu dormir. Ele ficou acordado, olhando para as sombras em sua cela, imaginando o que mais poderia estar escondido nelas. Ele sabia que não podia continuar assim. Ele precisava de respostas, de uma maneira de se proteger. Mas como?

Ele decidiu que precisava descobrir mais sobre as sombras. Se Luís estava certo, e elas estavam ficando mais fortes, então ele precisava saber como elas operavam. Ele começou a observar os outros presos mais de perto, tentando identificar quem poderia estar trabalhando para as sombras.

Foi então que ele notou algo estranho. Um dos presos, um homem chamado Marcos, parecia estar sempre por perto quando algo estranho acontecia. Ele era um homem grande, com uma expressão dura e olhos frios. Lucas nunca tinha se dado bem com ele, mas agora ele começou a suspeitar que havia algo mais por trás daquela fachada.

Uma noite, enquanto estava no pátio, Lucas viu Marcos conversando com outro preso em um canto escuro. Ele não conseguia ouvir o que estavam dizendo, mas a expressão de Marcos era séria, quase ameaçadora. O outro preso parecia assustado, como se estivesse sendo intimidado.

Lucas decidiu se aproximar, tentando parecer casual. "Oi, Marcos. Tudo bem?"

Marcos virou-se rapidamente, seus olhos estreitando-se ao ver Lucas. "O que você quer?"

Lucas encolheu os ombros, tentando parecer despreocupado. "Nada. Só vim dar um oi."

Marcos olhou para ele por um momento, como se tentando decidir se ele estava mentindo. Finalmente, ele deu um passo para trás, permitindo que Lucas se juntasse à conversa.

"Estávamos apenas falando sobre... coisas", Marcos disse, sua voz carregada de desconfiança.

Lucas assentiu, tentando parecer interessado. "Coisas como o quê?"

Marcos trocou um olhar com o outro preso, que parecia ainda mais assustado. "Nada que te interesse."

Lucas sabia que estava pisando em terreno perigoso, mas ele precisava descobrir o que estava acontecendo. "Eu só quero ajudar. Se há algo acontecendo aqui, eu quero saber."

Marcos olhou para ele por um momento, seus olhos escuros parecendo pesar as intenções de Lucas. Finalmente, ele falou: "Você não sabe no que está se metendo, rapaz. É melhor você ficar na sua."

Antes que Lucas pudesse responder, Marcos se afastou, levando o outro preso com ele. Lucas ficou parado ali, sentindo um frio percorrer seu corpo. Ele sabia que Marcos estava envolvido com as sombras, mas não sabia o que fazer com essa informação.

Naquela noite, enquanto estava deitado em sua cela, Lucas ouviu um barulho vindo do corredor. Era o mesmo som que ele ouvira antes, como algo se arrastando. Ele se levantou devagar, aproximando-se da porta de sua cela, e olhou para fora. O corredor estava escuro, mas ele podia ver uma figura ao longe, parada no meio do caminho. Era alta, magra, com contornos indistintos, como se fosse feita de escuridão pura.

Lucas sentiu um frio percorrer seu corpo. Ele sabia que aquilo não era humano. A figura começou a se mover em sua direção, lentamente, sem fazer barulho. Ele recuou, fechando a porta de sua cela e trancando-a rapidamente. Ele se sentou na cama, cobrindo os ouvidos com as mãos, tentando bloquear o som que agora parecia vir de todos os lados.

"Você não pode escapar, Lucas", a voz sussurrou, vinda das sombras. "Nós somos parte de você agora."

Ele fechou os olhos, tentando se concentrar em algo, qualquer coisa, para manter a sanidade. Mas as sombras estavam lá, dentro de sua mente, sussurrando, rindo, ameaçando.

Na manhã seguinte, ele acordou exausto, como se não tivesse dormido nada. Ele sabia que não podia continuar assim. Ele precisava descobrir o que estava acontecendo, antes que fosse tarde demais.

Ele decidiu procurar Luís novamente. Ele o encontrou no pátio, sentado em um banco, rezando.

"Eu preciso saber mais", Lucas disse, sua voz firme, mas carregada de medo. "O que são essas sombras? Como eu posso me livrar delas?"

Luís olhou para ele por um momento, seus olhos cheios de uma mistura de pena e determinação. "Elas são mais antigas do que você pode imaginar. Elas estão aqui desde antes desta prisão existir. E elas escolheram você."

"Por quê?" Lucas perguntou, sua voz quase um sussurro.

"Porque você tem algo que elas querem. Algo que elas precisam."

"O quê?"

Luís sorriu novamente, mas desta vez não havia humor em sua expressão. "Sua alma, Lucas. Elas querem sua alma."

Lucas sentiu o chão ceder sob seus pés. Ele queria acreditar que tudo aquilo era uma piada cruel, uma tentativa de assustá-lo. Mas algo no olhar de Luís o fez perceber que ele estava falando a verdade.

"O que eu faço?" Lucas perguntou, sua voz tremendo.

"Você precisa lutar", Luís respondeu. "Mas cuidado. Nem todos aqui são o que parecem. Alguns já foram corrompidos. Eles trabalham para as sombras."

Antes que Lucas pudesse fazer mais perguntas, Luís se afastou, deixando-o sozinho com seus pensamentos.

Naquela noite, Lucas não conseguiu dormir. Ele ficou acordado, olhando para as sombras em sua cela, imaginando o que mais poderia estar escondido nelas. Ele sabia que não podia continuar assim. Ele precisava de respostas, de uma maneira de se proteger. Mas como?

No dia seguinte, ele decidiu procurar o Dr. Almeida novamente. Talvez ele pudesse ajudá-lo a entender o que estava acontecendo. Mas quando ele perguntou aos guardas sobre o psicólogo, eles olharam para ele com confusão.

"Dr. Almeida? Nunca ouvimos falar dele", um dos guardas disse.

Lucas sentiu um frio percorrer seu corpo. "Ele esteve aqui na semana passada. Ele falou comigo."

Os guardas trocaram olhares preocupados. "Lucas, não há nenhum psicólogo com esse nome trabalhando aqui. Você tem certeza de que não imaginou isso?"

Lucas não respondeu. Ele se afastou, sua mente girando. Se o Dr. Almeida não era real, então quem — ou o quê — ele havia encontrado?

À medida que os dias passavam, Lucas começou a notar mudanças em si mesmo. Ele se sentia mais fraco, como se algo estivesse drenando sua energia. Suas noites eram atormentadas por pesadelos vívidos, nos quais ele era perseguido por sombras que riam e sussurravam seu nome. Ele começou a ver coisas durante o dia também — vultos que desapareciam quando ele olhava diretamente para eles, mãos que surgiam das paredes apenas para sumir em um piscar de olhos.

Ele sabia que não podia continuar assim. Ele precisava de ajuda, mas não sabia a quem recorrer. Os outros presos pareciam temer as sombras tanto quanto ele, e os guardas não acreditavam nele. Ele estava sozinho.

Uma noite, enquanto estava deitado em sua cama, Lucas ouviu um sussurro vindo da escuridão. Era baixo, quase imperceptível, mas ele conseguiu distinguir as palavras.

"Você não pode escapar, Lucas. Nós somos parte de você agora."

Ele fechou os olhos, tentando bloquear a voz, mas ela continuou, mais alta, mais insistente.

"Você nos pertence."

Lucas gritou, cobrindo os ouvidos com as mãos, mas a voz não parava. Ele sentiu algo frio tocando seu rosto, como se uma mão invisível estivesse acariciando sua pele. Ele se levantou da cama, desesperado, e começou a bater na porta da cela, gritando por ajuda.

Os guardas chegaram rapidamente, mas quando abriram a porta, não havia nada lá além de Lucas, tremendo e suando.

"O que está acontecendo aqui?" um dos guardas perguntou, olhando para ele com desconfiança.

Lucas não respondeu. Ele sabia que não adiantava. Eles não acreditariam nele. Ninguém acreditaria.

Nos dias que se seguiram, Lucas se tornou uma sombra de si mesmo. Ele mal comia, mal dormia. Ele passava a maior parte do tempo sentado em um canto de sua cela, olhando para as paredes, esperando que as sombras aparecessem novamente. Ele sabia que estava perdendo a sanidade, mas não havia nada que ele pudesse fazer para impedir.

Até que, uma noite, ele teve uma ideia. Se as sombras estavam realmente atrás de sua alma, então talvez houvesse uma maneira de enganá-las. Ele não sabia se funcionaria, mas era sua única esperança.

Ele começou a planejar. Ele sabia que precisava ser cuidadoso, que não podia deixar que ninguém soubesse o que ele estava fazendo. Ele passou dias observando os guardas, aprendendo seus horários, suas rotinas. Ele sabia que precisava de uma distração, algo grande o suficiente para desviar a atenção de todos.

Finalmente, ele decidiu que era hora de agir. Ele esperou até a noite, quando a prisão estava mais silenciosa, e então começou a colocar seu plano em prática. Ele sabia que não havia garantias de que funcionaria, mas ele não tinha outra escolha.

Enquanto ele se movia silenciosamente pelo corredor escuro, ele sentiu as sombras se aproximando, como se soubessem o que ele estava prestes a fazer. Ele ignorou o medo que crescia em seu peito e continuou, determinado.

Ele estava prestes a descobrir se seu plano daria certo. Mas, no fundo, ele sabia que, independentemente do resultado, sua vida nunca mais seria a mesma.

 

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